Após dois anos dos atos extremistas de 8 de janeiro, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reafirmaram nesta quarta-feira (8) a defesa da tese sobre perseguição política. Ex-ministros do governo anterior também criticaram o evento promovido pelo Planalto em memória à invasão e aos ataques às sedes dos Três Poderes.
Líder da minoria no Senado, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou haver uma “agenda ideológica” do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para o senador, que foi ministro da Casa Civil de Bolsonaro, a preocupação do Executivo deveria ser com a situação fiscal do país.
“O governo fazer um palanque no palácio no 8 de janeiro não ajuda nada e só atrapalha. O assunto já está mais do que discutido. Politizar dois anos depois com a economia em chamas mostra um governo perdido e ofende o povo brasileiro”, afirmou no X (antigo Twitter).
O senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, criticou os “abusos do Judiciário” com “inquéritos intermináveis e decisões arbitrárias”. Segundo ele, atos de vandalismo de “sindicalistas e movimentos alinhados ao PT” anteriores foram minimizados e não receberam o mesmo tratamento que os ataques de 8 de janeiro.
“Atualmente, quem discorda do governo ou questiona os abusos do Judiciário enfrenta prisão, perseguição e silenciamento, com a aplicação da lei de forma seletiva. A democracia, sob a tutela daqueles que detêm o poder momentaneamente, tornou-se relativa nas mãos de um governo que abraça ditadores e normaliza a corrupção”, disse em nota divulgada.
Marinho defendeu a “pacificação” e resistência ao que chamou de “excessos”. O senador é um dos defensores do projeto de anistia para condenados por participar dos atos do 8 de janeiro. A proposta está em análise na Câmara e deverá retornar ao debate na gestão do sucessor do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que travou o avanço do projeto no fim do ano passado.
O texto é motivo de divergências no Legislativo. A base aliada do governo quer barrar o avanço do projeto, enquanto a oposição quer a aprovação e, inclusive, pleiteia mudanças para que o perdão se estenda a Bolsonaro.
“Estamos vivendo um momento sombrio, marcado por inquéritos intermináveis e decisões arbitrárias que minam a confiança nas instituições. É hora de defender a liberdade, exigir igualdade perante a lei e resistir aos excessos de quem deveria proteger a democracia. O Brasil necessita de pacificação e da restauração da normalidade democrática, o que só será possível com uma justiça isenta e igual para todos”, declarou Marinho.
Como a CNN mostrou, em relação aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) já condenou 371 réus com penas de prisão. Além disso, cinco pessoas foram absolvidas e outras 552 instruções ainda estão em andamento.
[https://www.cnnbrasil.com.br/politica/stf-condenou-371-denunciados-pelo-8-1-cinco-foram-absolvidos/]
Dados do Supremo indicam que, dentre as condenações, 225 são por crimes graves, como tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa armada e deterioração de patrimônio tombado. As penas para esses crimes variam de três a 17 anos de prisão.
As investigações miram quatro núcleos: executores, financiadores, autores intelectuais e autoridades públicas envolvidas. Por enquanto, o STF avançou principalmente com as condenações de executores. O julgamento de todos os envolvidos nos atos golpistas, no entanto, não tem data para ser concluído.
Ato em memória
Nesta quarta-feira, o Palácio do Planalto realiza um ato simbólico em memória aos dois anos dos ataques. Faz parte da programação do evento o recebimento de 21 obras restauradas que foram danificadas durante os atos golpistas.
Também será realizada uma “cerimônia em defesa da democracia” no Planalto com a presença de autoridades e representantes dos Três Poderes. Depois, o presidente Lula participará de um “Abraço da Democracia”, na Praça dos Três Poderes.