O governo de Minas Gerais, liderado por Romeu Zema (Novo), anunciou um reajuste de 6,49% nas tarifas do transporte público metropolitano, que entrará em vigor a partir do próximo dia 9 de janeiro.
A medida, divulgada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) no último dia 30 de dezembro, foi alvo de críticas por parte de usuários, movimentos populares e lideranças políticas. Apesar de as empresas operadoras terem solicitado um aumento de 8,7%, o percentual autorizado foi menor, mas ainda assim considerado elevado pelos passageiros, que enfrentam condições precárias no transporte.
Bruna Pinto, usuária da linha 3832, que conecta Nova Lima a Belo Horizonte, expressou sua indignação com o reajuste.
“O aumento da passagem representa mais uma forma de atentado à dignidade do trabalhador. Para quem busca emprego formal, esse custo pode ser um entrave, favorecendo a contratação de candidatos que moram mais perto do local de trabalho”, afirmou.
Bruna também destacou o impacto para trabalhadores autônomos e informais, que já enfrentam dificuldades financeiras e agora terão custos diários ainda maiores.
“Com o transporte custando até 30% do salário mínimo, o sentimento é de profunda tristeza. Em uma Minas Gerais tão rica, continuamos sendo explorados diariamente”, disse.
Ela também denunciou a precariedade do serviço. Para Bruna, as condições do transporte afetam diretamente a saúde mental e a qualidade de vida dos trabalhadores.
“Nos últimos seis meses, presenciei ônibus com janelas quebradas, cadeiras sem estofamento e até portas que não fecham. Já fiz viagens em veículos superlotados e com a porta estragada, o que é um risco à segurança dos passageiros”, continua.
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Já para Guilherme Braga, usuário da linha 3842, que conecta Raposos a Belo Horizonte, o aumento da tarifa e a falta de atenção com os passageiros representam uma má administração por parte do governo estadual.
“Grande parte do transporte está danificada ou nem funciona”, reclama.
Para ele, os responsáveis pelo transporte público deveriam fiscalizar melhor a situação dos ônibus e, ao mesmo tempo, serem punidos por disponibilizarem veículos que podem, a qualquer momento, causar acidentes graves.
Movimentos populares criticam modelo de gestão
Annie Oviedo, integrante do movimento Tarifa Zero BH, apontou o colapso do atual sistema.
“O aumento está muito acima da inflação e penaliza principalmente quem não tem vale-transporte. O sistema já era precário antes da pandemia e nunca se recuperou. Os veículos são velhos e as conexões entre as cidades da região metropolitana são ineficientes”, explicou.
Ela também critica a falta de fiscalização e a lógica dos reajustes tarifários.
“O aumento não considera a qualidade do serviço, mas apenas índices de preço. Empresas que reduzem custos e pioram a qualidade do transporte ainda assim obtêm aumento tarifário, ampliando suas margens de lucro”, afirmou. Para Annie, o modelo atual favorece o empresariado em detrimento da população mais vulnerável.
Manifestação por um transporte público e gratuito
Na última segunda-feira (6), o movimento Tarifa Zero BH realizou um protesto em frente à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), exigindo a revogação do aumento e a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do transporte intermunicipal.
Segundo Annie, há indícios de formação de cartel entre as empresas operadoras e problemas de transparência nos contratos.
“A população não aguenta mais pagar tanto por tão pouco. Precisamos de um transporte que atenda às pessoas, não aos lucros das empresas”, concluiu.
Deputada propõe alternativas
A deputada estadual Bella Gonçalves (Psol) também criticou o reajuste e defendeu soluções estruturais.
“A cada aumento tarifário, menos pessoas usam o transporte público, o que gera um círculo vicioso de perda de qualidade e aumento de custos. Precisamos integrar o transporte metropolitano com Belo Horizonte e investir em alternativas como o transporte sobre trilhos e subsídios para baratear as passagens”, disse.
A parlamentar também alertou para a urgência da renovação da frota e propôs uma CPI para investigar o sistema metropolitano.
Sistema em colapso
Atualmente, o transporte coletivo metropolitano abrange 34 municípios e atende cerca de 650 mil passageiros diários. Com 636 linhas ativas, o sistema realiza aproximadamente 14 mil viagens por dia útil, mas enfrenta críticas recorrentes sobre a qualidade do serviço e os altos custos para os usuários.
O recente aumento, de acordo com Bella Gonçalves, agrava a situação, ampliando o debate sobre a necessidade de reformas profundas no modelo de gestão e financiamento do transporte público na região metropolitana.
Para a parlamentar, é preciso integrar o transporte em BH com o transporte Metropolitano para garantir um sistema de barateamento dos custos da passagem por meio de medidas como o subsídio indireto.
“É fundamental que o bolso do cidadão seja preservado para que o tempo da viagem diminua. É completamente razoável o fato das mesmas empresas operarem sistemas com lógicas diferentes e passagens diferentes, em uma região metropolitana como a de Belo Horizonte. Isso é prejuízo, isso é parte das ações que mantêm esse cartel, essa máfia do transporte de pé”, continuou a deputada.
No site do Departamento de Estradas e Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER), é possível conferir a tabela com os valores atualizados de acordo com cada cidade da RMBH.
O outro lado
O Brasil de Fato MG procurou o governo de Minas Gerais para comentar sobre as denúncias. A reportagem será atualizada, caso haja algum posicionamento.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos