O líder do Movimento Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, voltou a reclamar da “inoperância” do governo em relação às pautas do movimento invasor. Apesar da indignação, Stédile poupou o presidente Lula (PT) das críticas.
“A reforma agrária está absolutamente parada nesses dois anos. Todo mundo tem as suas desculpas: ‘Ah, tivemos que remontar o Ministério do Desenvolvimento Agrário… Ah, não tivemos orçamento no 1º ano’”, disse Stédile em entrevista ao Repórter Brasil.
“Tudo bem, nós somos pacientes, mas isso pode explicar a inoperância do 1º ano. Mas, já estamos no 2º ano, e em 24 meses avançou pouco, quase nada, a reforma agrária”, completou.
Mais invasões
Para o líder do MST, a inércia do governo vai resultar em mais invasões do grupo.
“É óbvio que, dia mais, dia menos, essa base vai se mobilizar, vai pressionar, diante da ineficácia […] Nós estamos p* da cara com a incompetência generalizada do governo federal em resolver problemas. Porque se você não resolve o problema, ele só se agrava”, afirmou.
Apesar das reclamações, Stédile isentou o presidente Lula das críticas. Para o líder do MST, o petista está “muito sozinho” com um idealismo de “querer atender às necessidades do povo”.
“A dificuldade na nossa interlocução com os ministérios do governo se dá porque, em geral, os ministros são ufanistas. Eles acham que estão fazendo o melhor governo de toda a vida. E o pior enfermo é aquele que não reconhece a doença. Então, não há remédio que funcione”, declarou.
Críticas recentes
O líder maior do movimento invasor está cobrando e criticando o governo Lula desde o início do mandato.
Um dia antes da entrevista concedida ao Repórter Brasil, no dia 16 de dezembro, Stédile criticou o excesso de “propaganda” e “retórica” do governo e classificou o trabalho do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) como “vergonhoso”.
Anteriormente, no início deste mês, Stédile disparou contra o governo por mudanças no programa Minha Casa Minha Vida que afetariam diretamente as famílias de baixa renda.
De acordo com ele, a ampliação dos valores dos imóveis e da faixa de renda para a participação podem favorecer construtoras e classes mais próximas à média do que os mais pobres.
Em agosto deste ano, Stédile criticou o governo por “se meter” em assuntos relativos à soberania de outros países – neste caso, por cobrar da Venezuela a divulgação das atas de votação que supostamente reelegeram o ditador Nicolás Maduro.
Em junho, Stédile criticou o presidente dias depois de Lula sancionar a lei aprovada pelo Congresso Nacional que exclui a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais.
A mudança na lei da Política Nacional do Meio Ambiente simplifica o licenciamento ambiental para o plantio de florestas para fins comerciais, como a produção de pinus e eucaliptos.
Stédile considerou a sanção de Lula como um “desastre”, afirmando que a silvicultura gera um “uso excessivo de água e rebaixamento do lençol freático, uso de agrotóxicos e perda de biodiversidade”.