Honda e Nissan anunciaram nesta segunda-feira (23), que estão em negociações para uma possível fusão.
O anúncio foi feito em uma coletiva de imprensa conjunta entre os presidentes das montadoras, realizada em Tóquio.
Em um momento histórico para a indústria automobilística do Japão, que ressalta a ameaça que os fabricantes de veículos elétricos chineses agora representam para alguns dos fabricantes de automóveis mais conhecidos do mundo.
A integração criaria o terceiro maior grupo automotivo do mundo em vendas de veículos, depois da Toyota e da Volkswagen.
O acordo traria às empresas escala e uma chance de compartilhar recursos diante da intensa competição com a Tesla e BYD.
A Honda é a segunda maior montadora do Japão e a Nissan, a terceira. A união das montadoras marcaria a maior reformulação na indústria automobilística global desde que a Fiat Chrysler Automobiles e a PSA se fundiram em 2021, em um acordo de US$ 52 bilhões.
A Mitsubishi, que tem a Nissan como principal acionista, também estava considerando se juntar, afirmaram as empresas.
“A ascensão das montadoras chinesas e novos participantes mudou bastante a indústria automobilística”, disse o CEO da Honda, Toshihiro Mibe.
“Temos que desenvolver capacidades para lutar com eles até 2030, caso contrário seremos derrotados”, acrescentou.
As duas empresas teriam como meta vendas combinadas de 30 trilhões de ienes (R$ 116 bilhões) e lucro operacional de mais de 3 trilhões de ienes por meio da potencial fusão, afirmaram os presidentes.
A meta é encerrar as negociações por volta de junho de 2025 e, em seguida, criar uma holding até agosto de 2026, quando as ações de ambas as empresas seriam retiradas da lista.
A Honda tem uma capitalização de mercado de mais de US$ 40 bilhões, enquanto a Nissan é avaliada em cerca de US$ 10 bilhões.
A Honda será responsável por nomear a maior parte do conselho da holding.
A combinação com a Mitsubishi Motors levaria as vendas globais do grupo japonês para mais de 8 milhões de carros.
Como surgiu a ideia de fusão?
A Honda e a Nissan têm explorado maneiras de reforçar sua parceria, incluindo uma fusão, informou a Reuters na semana passada.
As duas empresas disseram em março que estavam considerando a cooperação em eletrificação e desenvolvimento de software. Elas concordaram em conduzir pesquisas conjuntas e ampliaram a colaboração para a Mitsubishi em agosto.
No mês passado, a Nissan anunciou um plano para cortar 9.000 empregos e 20% de sua capacidade de produção global após as vendas despencarem nos principais mercados da China e dos EUA. A Honda também relatou lucros piores do que o esperado devido ao declínio das vendas na China.
Assim como outras montadoras estrangeiras, a Honda e a Nissan perderam terreno no maior mercado do mundo, a China, com a BYD e outras marcas locais que fabricam carros elétricos e híbridos.
Em uma coletiva de imprensa online separada com o Foreign Correspondents Club of Japan realizada nesta segunda-feira, o ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, disse que não acreditava que a aliança seria bem-sucedida, dizendo que as duas montadoras não eram complementares.
Ghosn é procurado como fugitivo no Japão por ter fugido sob fiança para o Líbano. Sua prisão em 2018 por irregularidades financeiras colocou a Nissan em uma crise.
A montadora francesa Renault, maior acionista da Nissan, está aberta em princípio a um acordo e examinaria todas as implicações de uma fusão, disseram fontes.
A Foxconn, de Taiwan, buscando expandir seu incipiente negócio de fabricação de contratos de EV, abordou a Nissan com uma oferta, mas a empresa japonesa negou, disseram fontes à Reuters.
A Foxconn decidiu pausar a abordagem após enviar uma delegação para se encontrar com a Renault, informou a Bloomberg News na sexta-feira (20).
As ações da Honda terminaram o dia com alta de 3,8%, a Nissan subiu 1,6% e a Mitsubishi Motors ganhou 5,3% após as notícias sobre os detalhes da fusão planejada, enquanto o índice de referência Nikkei fechou com alta de 1,2%.