Tradicionalmente conhecidos por encherem suas bochechas com nozes, os esquilos podem ser carnívoros — embora casos registrados dos roedores caçando e matando outros vertebrados vivos sejam raros, com poucas espécies conhecidas por fazê-lo.
Agora, cientistas encontraram evidências sem precedentes de outro tipo de esquilo exibindo comportamentos carnívoros, incluindo caça, morte e consumo de ratazanas, de acordo com um novo estudo.
A pesquisa, publicada nesta quarta-feira (18) no Journal of Ethology, é parte do Projeto de Longo Prazo de Ecologia Comportamental de Esquilos Terrestres da Califórnia no Parque Regional Briones, no Condado de Contra Costa.
O projeto examina como os esquilos terrestres da Califórnia — nativos das pradarias do estado — adaptam seu comportamento em resposta a mudanças ambientais, neste caso um aumento na população local de ratazanas.
Em partes do Norte da Califórnia, infestações desses roedores têm sido observadas. No local da pesquisa, os autores do estudo notaram um número significativamente maior de ratazanas do que a média na última década.
Os esquilos terrestres da Califórnia têm sido tradicionalmente considerados herbívoros ou granívoros, alimentando-se principalmente de plantas e sementes. As novas descobertas oferecem a primeira documentação da espécie ativamente predando outros vertebrados vivos — ressaltando sua capacidade de responder a mudanças no ecossistema.
“Esta pesquisa muda radicalmente nossa percepção sobre os esquilos, um dos mamíferos mais familiares do mundo”, disse a autora principal do estudo Jennifer Smith, professora associada de biologia da Universidade de Wisconsin-Eau Claire, por e-mail.
“Diante das agressões humanas como mudanças climáticas e seca, esses animais são resilientes e têm o potencial de se adaptar para viver em um mundo em transformação.”
Esses roedores são uma parte importante dos ecossistemas da Califórnia, e entender se a descoberta de alimentos é uma característica socialmente transmitida nessas populações pode fornecer insights fundamentais sobre como outras espécies se ajustarão a ambientes em mudança, disse Smith.
Mudança inesperada no comportamento dos esquilos
Smith e seus colegas observaram o comportamento carnívoro dos esquilos durante um período de estudo de 10 de junho a 30 de julho. Durante esse tempo, os cientistas usaram armadilhas vivas para capturar, marcar e liberar esquilos terrestres da Califórnia quinzenalmente.
A equipe do estudo coletou dados detalhados sobre cada roedor, incluindo seu sexo, status reprodutivo e massa corporal, marcando cada animal com duas etiquetas de identificação e uma marca única na pelagem usando corante para garantir que todos os mamíferos estudados pudessem ser rastreados durante o período de observação.
Os pesquisadores dividiram os estudados em três grupos e observaram o comportamento deles em dias sem armadilhas. A equipe registrou 74 interações entre os esquilos e as ratazanas, e 42% dos encontros envolveram esquilos — incluindo tanto juvenis quanto adultos de ambos os sexos — ativamente caçando e consumindo as ratazanas.
“Já sabíamos que esses roedores terrestres da Califórnia podiam viver em uma variedade de elevações e se alimentar de uma ampla gama de plantas, mas o que é mais surpreendente e incrível é a velocidade com que eles mudaram seu comportamento em resposta a esse aumento local na abundância de ratazanas”, disse Smith.
O estudo revelou outras dinâmicas sociais anteriormente não documentadas entre esquilos as presas. Algumas interações entre os animais foram positivas, incluindo forrageamento, saudação e brincadeiras. Outros comportamentos foram competitivos, caracterizados por perseguição, empurrões físicos, saltos e mordidas.
“As ratazanas passaram a reconhecer os esquilos como predadores”, disse John Koprowski, reitor da Escola Haub de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade de Wyoming, que não esteve envolvido no estudo. “Provavelmente há uma interação muito interessante entre as duas espécies porque ser comido geralmente não é uma ótima maneira de continuar passando seus genes.”
Evolução dos padrões alimentares
As descobertas do estudo sugerem que os esquilos podem ser melhor classificados como onívoros oportunistas com base em sua disposição para caçar e consumir presas vivas, particularmente quando há um suprimento abundante.
A proteína é um recurso limitado, mas necessário para os esquilos prosperarem, e caçar ratazanas provavelmente lhes fornece um impulso nutricional mais rápido e acessível do que sementes, explicou Koprowski.
“É uma maneira maravilhosa de eles capitalizarem um recurso muito abundante… para fornecer sustento suficiente para muitos esquilos utilizarem”, disse ele. Embora os humanos normalmente categorizem os animais por seus hábitos alimentares, não é incomum que até mesmo o carnívoro mais estrito coma frutas de vez em quando, acrescentou o pesquisador.
Esse fenômeno, no qual um animal aproveita um recurso necessário quando este está disponível, é conhecido como plasticidade dietética, segundo Koprowski. Se um animal não se adapta para utilizar o recurso, é provável que outra espécie tire proveito dele.
Embora esta descoberta possa inicialmente parecer preocupante para alguns, o pesquisador disse que tal mudança na dieta é bastante normal para os animais. Os roedores frequentemente experimentam surtos no crescimento populacional e são considerados pragas, então ter novos predadores, como os esquilos terrestres da Califórnia, ajudará a manter o número de roedores sob controle, disse ele.
As novas descobertas também podem ajudar a preparar o terreno para futuras pesquisas sobre a adaptabilidade de diferentes espécies de esquilos e outros mamíferos diante das mudanças ambientais, segundo Smith.
“Os animais podem se adaptar ou entrar em extinção em um mundo impactado pelos humanos”, disse Smith. “Estes animais estão nos mostrando a incrível resiliência de algumas espécies e, ao estudar esses processos, podemos oferecer insights significativos para a conservação.”
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