Presidente teve dor de cabeça por uma semana até que sangramento de 3 cm fosse identificado; médicos chegaram a considerar covid e decisão de ida para São Paulo envolveu riscos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, correu risco de morte na 2ª feira (9.dez.2024) quando teve fortes dores que o levaram ao hospital, onde um sangramento intracraniano de 3 cm foi identificado no lado esquerdo da cabeça. O hematoma já pressionava o seu cérebro e, caso houvesse demorado mais algumas horas para ter uma avaliação médica, poderia ter chegado a um quadro de coma, que é quando o paciente entra em um estado profundo de sono, em que não pode ser acordado.
Lula já vinha reclamando de dores ao longo de uma semana antes dos exames realizados na 2ª feira (9.dez). Nesse período, viajou ao Mato Grosso do Sul, ao Uruguai, onde participou da Cúpula do Mercosul, e a São Paulo, de 5ª feira (5.dez) a sábado (7.dez).
Na 2ª feira (9.dez), o presidente apresentou também sintomas gripais e um pouco de febre. Assessores, ministros e outras pessoas que estiveram com o petista naquele dia identificaram que ele estava diferente do habitual, mais quieto, abatido e indisposto. Ele também relatou a algumas pessoas que estava com cefaleia.
Coube ao empresário José Seripieri Filho, que era conhecido com “Júnior da Qualicorp”, avisar ao médico pessoal de Lula, o cardiologista Roberto Kalil Filho, que o presidente não estava bem. O agora dono da Amil esteve com o petista em uma reunião que não estava marcada na agenda oficial e que não foi registrada até o momento.
Júnior é amigo de Lula. Em 2022, ele deu carona em seu avião Gulfstream G600 a Lula, ainda quando era presidente eleito, numa viagem para o Egito, onde o petista participou da COP27, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas).
Empresário que atua no ramo da corretagem de planos de saúde, Seripieri ficou conhecido durante muitos anos como “Júnior da Qualicorp”, empresa da qual não faz mais parte do quadro societário há vários anos. Em 2020, foi preso por 4 dias em uma operação da Lava Jato sob a acusação de ter pagado R$ 5 milhões não contabilizados a campanha eleitoral de José Serra (PSDB-SP) ao Senado em 2014.
Kalil, que estava em São Paulo, pediu à médica da Presidência da República, a infectologista Ana Helena Germoglio, que fosse examinar o presidente em seu gabinete. Ela também achou que ele não estava bem e os 2 médicos decidiram que Lula fosse levado ao hospital Sírio-Libanês, em Brasília. Lula chegou ao local por volta das 18h30.
O comboio presidencial deixou o Palácio do Planalto pelos fundos e a bandeira-insígnia da Presidência da República continuou hasteada até 20h. O símbolo indica a presença do presidente em determinado local e sua permanência hasteada quando Lula já havia deixado o local é um erro.
Segundo o Poder360 apurou, inicialmente, a equipe médica considerou que o presidente estaria com covid-19 por causa dos sintomas apresentados. A primeira-dama Janja Lula da Silva havia tido a infecção pelo coronavírus cerca de 10 dias antes. Ainda assim, os médicos aproveitaram para realizar uma tomografia. Lula tem realizado com frequência exames de imagem para monitorar a cabeça.
Em 19 de outubro, o petista sofreu uma queda em um banheiro no Palácio da Alvorada em que bateu com força a parte de trás do crânio no chão. Na queda, houve um chacoalhão do cérebro, que formou 2 coágulos.
O resultado do exame realizado na 2ª feira (9.dez), porém, apontou uma hemorragia de cerca de 3 cm, considerada grande, no lado esquerdo da cabeça. Nesse momento, Kalil e outros médicos de São Paulo e de Brasília discutiram a transferência do presidente para a capital paulista por considerar que haveria estrutura melhor para atender Lula.
De acordo com os médicos, o sangramento se deu na região entre o cérebro e a membrana meníngea, que tem uma de suas camadas chamada de dura máter, uma camada externa, espessa e forte da membrana localizada sob o crânio e a coluna vertebral. Mesmo que não tenha atingido diretamente o cérebro, o sangramento já comprimia a região.
Segundo o Poder360 apurou, um aumento da pressão no cérebro poderia agravar o quadro do presidente, que, no limite, poderia entrar em coma.
A equipe médica, incluindo neurocirurgiões, decidiu levar Lula para São Paulo mesmo que a viagem oferecesse riscos. Os profissionais consideraram que a hemorragia estava em uma área em que já havia tido outro sangramento, logo após o acidente doméstico de outubro. Dessa forma, o cérebro estava “acostumado” com a pressão e o presidente poderia suportar a viagem de cerca de 1h30.
O presidente viajou no Airbus A319CJ, identificado pela FAB (Força Aérea Brasileira) como VC-1 e conhecido como Aerolula, para a capital paulista por volta das 23h. Lula usou oxigênio durante todo o trajeto.
Viajaram com o presidente no avião a primeira-dama Janja Lula da Silva, a médica Ana Helena Germoglio, o chefe de ajudância de ordens, Valmir Moraes, e o neurocirurgião do hospital Sírio-Libanês de Brasília, Mauro Suzuki, além de seguranças. Durante o voo, os médicos enviaram relatórios sobre o estado de saúde do presidente para a equipe médica de São Paulo.
Integrantes do governo e assessores chegaram pouco antes em outro avião, mas não esperaram o presidente para auxiliá-lo, caso houvesse alguma necessidade. Ministros do governo permaneceram em Brasília.
Os médicos aguardaram Lula na pista do aeroporto de Congonhas. Assim que o avião pousou, às 0h24, Kalil entrou na aeronave para receber o presidente, que já estava de pé, consciente e com a fala correta. Uma ambulância do hospital Sírio-Libanês já aguardava na pista.
Lula foi transportado deitado diretamente até o centro cirúrgico do hospital, que fica a cerca de 11 km do aeroporto. A Polícia Federal escoltou a ambulância.
O presidente entrou diretamente para a sala onde seria operado. Foi submetido ainda na madrugada a uma trepanação craniana, em que 2 pequenos furos foram feitos em seu crânio para drenar a hemorragia. Ele recebeu anestesia geral e precisou ser entubado. O procedimento durou cerca de 3 horas. Assim que acabou, passou por uma tomografia de controle para avaliação.
Apenas Janja acompanhou o presidente no hospital. É ela que tem ficado com Lula enquanto ele não pode receber visitas porque está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O presidente acordou por volta das 5h, quando foi extubado.
Na 3ª feira (10.dez), a equipe médica informou que Lula não havia tido nenhuma sequela no cérebro e que estava com as funções neurológicas preservadas.
Lula passou por um novo procedimento na manhã desta 5ª feira (12.dez). Foi submetido a um cateterismo por volta das 7h da manhã, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para interromper o fluxo de sangue em uma artéria que irriga a membrana que reveste o cérebro, a meninge.
Os médicos reiteraram que Lula está com as funções neurológicas preservadas e se recupera bem. O presidente ainda está na UTI. Depois, deverá ir para um quarto do hospital, onde continuará internado nos próximos dias. Se tudo correr bem, poderá ter alta no início da próxima semana e retornar para Brasília.