O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que quer trabalhar “diretamente” com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e está aberto às suas ideias, destacando a vontade de seu governo de manter seu aliado mais importante ao lado enquanto a Rússia intensifica os seus ataques.
“É claro que trabalharemos com Trump. Quero trabalhar diretamente com ele”, afirmou Zelensky em entrevista à Sky News divulgada na sexta-feira (29), acrescentando que não queria que as pessoas ao redor do republicano “destruíssem” a sua comunicação.
“Quero compartilhar ideias com ele e quero ouvir dele suas ideias”, acrescentou.
Os Estados Unidos são o maior fornecedor de assistência militar à Ucrânia e o governo do país europeu está ciente de que precisa de permanecer ao lado de Trump para garantir apoio futuro.
De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, o governo americano contribuiu com US$ 64,1 bilhões de dólares para Ucrânia.
Zelensky classificou a conversa que teve com Trump durante uma visita a Nova York em setembro como “calorosa, boa, construtiva”.
Ele pontuou que as discussões eram um “primeiro passo importante”, mas que seriam necessárias conversas mais detalhadas “até que tenhamos um plano real onde a Ucrânia seja forte”.
Zelensky observou que seu chefe de gabinete, Andriy Yermak, viajaria aos EUA o mais rápido possível para reuniões, inclusive com o escolhido de Trump para ser o enviado especial à Ucrânia, Keith Kellogg.
Kellogg é a favor de um cessar-fogo e de negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, que incluiriam garantias de segurança para a Ucrânia se proteger contra futuras invasões russas.
Zelensky afirmou à Sky News que o presidente russo, Vladimir Putin, não estava pronto para negociar. “Ele não quer parar a guerra”, alegou.
O líder ucraniano acrescentou que gostaria que Trump tenha sucesso e que os EUA “desempenhem um dos papéis mais cruciais” no fim da guerra.
Antes de vencer as eleições, Trump afirmou repetidamente que a guerra não teria começado se ele fosse presidente. Ele também prometeu acabar com o conflito, às vezes até alegando que o interromperia antes de assumir o cargo.
Em julho, ele disse que poderia resolver a guerra em um dia, sem dar mais detalhes.
Zelensky sugere que poderia ceder território
Durante a entrevista à Sky News, Zelensky afirmou que oferecer que a Ucrânia se junte à Otan, a organização militar ocidental, enquanto a Rússia possa manter, por ora, os territórios que havia capturado poderia ser uma solução para acabar com a “fase quente” da guerra.
“Ninguém nos ofereceu fazer parte da Otan apenas para uma parte ou outra da Ucrânia. Se quisermos parar a “fase quente” da guerra, devemos colocar sob o guarda-chuva da Otan o território da Ucrânia que está sob nosso controle”, pontuou o presidente.
“Isso é o que precisamos fazer rapidamente, e então, a Ucrânia poderá recuperar a outra parte de seu território diplomaticamente”, completou.
“Mas o convite deve ser feito à Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Não se pode fazer um convite apenas para uma parte de um país”, afirmou o líder ucraniano.
Entenda a guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin.
Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada. A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.
Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.
As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.
O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.
A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.
O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.