Próximo presidente do BC defende autonomia e afirma que a autoridade monetária é de “partido nenhum”
O futuro presidente do BC (Banco Central) e atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, disse nesta 6ª feira (29.nov.2024) que a autoridade monetária não “mira” uma cotação do dólar e só atuará em caso de disfuncionalidade no mercado de câmbio. A moeda norte-americana superou R$ 6,10 pela 1ª vez na história nesta 6ª feira (29.nov).
Galípolo declarou que conversou durante a manhã com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre uma eventual intervenção. “O Banco Central faz atuação no câmbio em função de disfuncionalidades. O câmbio flutuante é uma ferramenta muito importante dentro do que é a matriz da política econômica brasileira. É muito importante para absorver choques, absorver flutuações como essas que estamos assistindo”, disse.
O diretor declarou que a gestão da política de intervenção no câmbio é democrática e que o BC está sempre acompanhando se existe algum tipo de disfuncionalidade.
“O Banco Central não mira qualquer tipo de nível de câmbio, não visa defender qualquer nível de câmbio”, disse.
Galípolo participou nesta 6ª feira (29.nov) de evento realizado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em São Paulo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também estava presente. O líder da equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o pacote fiscal de revisão de gastos.
Haddad propôs um conjunto de medidas que economizam até R$ 327 bilhões de 2025 a 2030. Agentes financeiros avaliam que o impacto fiscal será menor. O Copom (Comitê de Política Monetária) terá reunião em 11 de dezembro para definir a taxa básica, a Selic, atualmente em 11,25% ao ano. Depois do pacote fiscal, o JP Morgan espera um Banco Central mais agressivo, com alta de 1 ponto percentual e Selic de 14,25% em março.
Para o futuro presidente do BC, os agentes financeiros ainda estão “digerindo” os anúncios fiscais, e que as declarações dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro Haddad contribuíram para conter a alta do dólar nesta 6ª feira (29.nov.2024).
Para o presidente do BC, a desaceleração da alta da moeda se deve à interpretação de que há uma grande disposição do governo e Congresso de aprovar rapidamente o pacote de contenção de gastos públicos.
Galípolo afirmou também que o mercado reage positivamente às declarações de que o governo poderá adotar outras medidas fiscais. Disse que o pacote fiscal não é o “ponto final de chegada”, mas sim “mais um passo” para a estabilidade fiscal.
AUTONOMIA DO BC
Galípolo declarou ser fundamental o Banco Central avançar no arcabouço institucional. Disse que houve uma “série de revoluções no mercado financeiro brasileiro”. Para ele, o BC precisa ter evolução institucional para acompanhar as inovações.
O futuro presidente da autoridade monetária negou que assumirá um Banco Central do PT. O governo Lula terá indicado a maioria dos diretores a partir de 2025. “Não existe Banco Central de partido nenhum. Nós estamos ali trabalhando numa diretoria que tem 5 indicados do governo anterior e 4 indicados do governo atual”, disse. Defendeu que há um elevado grau de harmonia e sintonia para o debate de política monetária.
CRÍTICAS AO BC
Galípolo declarou que críticas são normais e que não é um tema que “preocupa”. E completou: “O arcabouço legal e institucional que existe da política monetária hoje está muito claro. O Banco Central não recebe comandos por entrevistas, por post em redes social”.
O PT (Partido dos Trabalhadores), do presidente Lula, tem criticado a autoridade monetária por elevar a taxa Selic. O Poder360 já mostrou que a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), cita mais “Campos Neto” que “Haddad” e “Alckmin” no X.
Galípolo declarou que o CMN (Conselho Monetário Nacional) define a meta de inflação, atualmente em 3%, e cabe ao Banco Central adotar uma taxa Selic “num patamar restritivo o suficiente pelo tempo necessário para atingir a meta”.