Foi um desastre de marketing, um desastre político e um desastre econômico a divulgação do esperado pacote de reequilíbrio das contas públicas. Com a decisão de antecipar a proposta de mudança do IR e criar ainda mais ruído em torno das medidas, o presidente Lula, desta vez simbolicamente, mirou a unha do pé e acabou de novo caindo do banquinho. Não parece estar em grande forma.
É espantoso que um marqueteiro tenha sido consultado para ajudar no planejamento do desastre. Com base numa aposta ressentida e pueril contra as evidências de desajustes apontadas por economistas e pelo mercado, o cálculo eleitoral do núcleo petista abraçado por Lula mostrou-se um grande equívoco.
Um mínimo de racionalidade e frieza, sem a contaminação da selva de vaidades e radicalismos ideológicos do parquinho petista, indicaria que o caminho mais razoável seria apresentar detalhadamente o pacote de ajustes, que tem virtudes, e buscar algum tipo mais maduro de interlocução com os agentes econômicos.
“Sim, isso foi insuficiente, já aquilo foi bom, podemos melhorar um pouco mais com o Congresso”…
Enfim, o que seria esperável de um tema tão complexo. Acertados os rumos e definidas as margens de divergência, segue o barco. E ano que vem vamos falar de IR.
A politização descarada e improvisada do processo partiu da ideia de que o ajuste representaria de imediato um grande desgaste para a imagem do governo junto aos setores de baixa renda. Será? É uma avaliação no mínimo duvidosa. Com certeza a disparada do dólar e dos juros, que vai exigir aumentos da Selic pelo BC, se revelarão mais danosos, pois acontecem já.
Ou então vamos acreditar em mais uma manifestação raivosa e tosca do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao anunciar uma nova fase no BC, porque o futuro presidente da instituição mora no Brasil e não despacha de Miami. Faz favor.
Melhor teria feito Lula se apoiasse seu ministro da Economia, Fernando Haddad, e investisse num ambiente econômico de baixa fervura, sem turbulências desnecessárias com o mercado e a lógica da gestão econômica.
Este colunista está longe de ser um defensor do fiscalismo e dos caprichos da Faria Lima. Tal perspectiva, no entanto, não dá passe livre para a burrice e a imprudência demonstradas neste anúncio. Esperemos que tenha conserto, porque as consequências que se anunciam não serão ruins apenas para Lula.
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