Documentos apreendidos pela Polícia Federal na sede do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mostram que o general Walter Braga Netto tentou ter acesso a detalhes da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Os documentos foram achados na mesa ocupada pelo coronel Flávio Botelho Peregrino, que não foi indicado pela PF, assessor de Braga Netto.
Em uma pasta, denominada “memórias importantes”, um documento descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado por Cid com a PF em 2023.
“O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente do grupo investigado, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado”, avalia a PF.
Sobre o “teor das reuniões”, a resposta é que “nada” foi delatado. “Eu não entrava nas reuniões, só colocava o pessoal para dentro.”
Também aparecem perguntas sobre o ex-assessor Filipe Martins e sobre o que está saindo na imprensa e o que não foi delatado (“99% é fake. Requentam o que estava na imprensa”).
Como “outras informações” aparecem, no mesmo tom rosa das respostas, que “perguntaram muito do general Mario”, que “AM é birrento” e que “perguntaram sobre Flávio B: aliviou”. O último item diz que “GBN não é golpista”.
GBN seria o general Braga Netto e, AM, possivelmente Alexandre de Moraes. General Mario seria o general Mário Fernandes, com quem a PF encontrou o plano “Punhal Verde Amarelo’.
“O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho”, aponta a PF.
“O contexto do referido documento confirma que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do acordo de colaboração firmado Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal”, continua o relatório da PF, reforçando que o documento estava na mesa do assessor de Braga Netto, “figura central nos atos que tinham o objetivo de subverter o regime democrático no Brasil, logo pessoa interessada em saber o conteúdo do que fora revelado pelo colaborador”.
O relatório diz ainda que, também sob a mesa de Peregrino foi encontrado folha preenchida a mão com o título “operação 142”, com um fluxograma do que seria um golpe.
O fluxograma faz uma “avaliação da conjuntura”, considera as “linhas de esforços”, citando entre elas a anulação de atos arbitrários do STF e interrupção do processo de transição, até terminar com o “estado final desejado político”: “Lula não sobe a rampa”.
O PL, partido em cuja sede foi encontrado tal documento, tem como presidente Valdemar Costa Neto, que também está entre os indiciados.