Ester Brum, 20, soube da chegada de uma equipe da campanha do prefeito eleito Netinho Reis (MDB) no Parque Vila Nova, comunidade onde mora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Procuravam pessoas sem emprego fixo para trabalhar durante a eleição na cidade.
Ester anotou o nome na lista de candidatos e foi uma das escolhidas. Além dela, a irmã e a mãe também conseguiram o emprego temporário.
Sem vínculo empregatício, as três trabalharam de agosto a outubro no centro de Duque de Caxias, balançando bandeiras de Netinho Reis. A jornada de trabalho, de meio-dia às 19h, de domingo a domingo, rendeu R$ 800 por quinzena.
“Eu trabalhava vendendo bala no trânsito e até tirava mais com as balas do que com a bandeira, mas quase não conseguia ver lucro porque gastava todos os dias recomprando os produtos. Nesse emprego temporário recebo por quinzena, dá um certo alívio para nós”, diz.
Ela diz que “queria que a eleição se estendesse e que pintasse uma possibilidade de continuar trabalhando com política no ano que vem”.
Ester foi uma das 1,2 milhão de pessoas contratadas diretamente por campanhas eleitorais no Brasil este ano, segundo dados das prestações de contas enviadas pelos candidatos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até a última quarta-feira (20).
Não é possível falar em 1,2 milhão de postos de trabalho porque parte se refere a serviços específicos, como cessão de veículos ou locação de imóveis.
Mais da metade dos contratados (cerca de 669 mil), porém, atuou em atividades de militância e mobilização de rua, de acordo com os dados do TSE. Mas o número real de pessoas envolvidas em ação de campanha nas ruas é ainda maior, já que muitos deles foram incluídos nas prestações de contas de forma genérica, como “despesas com pessoal”.
Os contratos com pessoas físicas já informados à Justiça Eleitoral somam R$ 1,96 bilhão dos R$ 6,22 bilhões do total. A maior parte dos gastos foi feita com empresas.
Os dados mostram que a remuneração média para quem trabalhou em atividades de rua foi de R$ 1.020. O valor depende do local, tempo e função do trabalho.
Bruna Rocha da Silva, 38, coordenou, de agosto a outubro, 11 pessoas que atuaram na campanha do candidato a vereador Vinicius Cordeiro (Cidadania), em uma praça da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro.
A equipe, incluindo a própria Bruna, que recebeu R$ 1.600 mensais pelo trabalho, balançava bandeiras e entregava panfletos na entrada de uma estação de metrô: “Eu estou recebendo auxílio desemprego, mas não dá para tudo. Esse dinheiro extra veio em ótima hora”, afirmou ela.
Ela era vigilante em uma agência bancária até agosto. A empresa terceirizada perdeu o contrato com o banco e Bruna não foi remanejada. Moradora do morro do Salgueiro, soube da vaga temporária através da associação de moradores local.
“Fui perguntar se precisavam de pessoas para trabalhar no período da eleição e no mesmo dia havia uma reunião do candidato sobre como seria o trabalho. Consegui a vaga e virei coordenadora da equipe.”
Os números se referem apenas a contratações diretas feitas pelas próprias campanhas. As novas vagas criadas nas eleições, porém, atingem outros setores.
A indústria gráfica, principal destinatária dos recursos da campanha eleitoral, afirma ter ampliado o número de vagas temporárias para atender à demanda dos candidatos.
Levantamento da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) junto às empresas do setor indica que 17% das gráficas do país fizeram contratações temporárias.
O presidente da Abigraf, Julião Gaúna, afirma que o planejamento das gráficas começa na pré-campanha em contato com responsáveis dos partidos para medir o nível da demanda. O objetivo é garantir matéria-prima para a confecção dos santinhos e panfletos que inundam as ruas das cidades.
Segundo Gaúna, as vagas temporárias criadas têm como objetivo o processo final, de empacotamento do material impresso.
“Precisa empacotar, dobrar, separar. É um trabalho praticamente manual mais na linha final. A produção gráfica é toda automatizada”, disse ele.
O TSE impõe em toda eleição um limite de contratação de pessoal, para evitar que os repasses sejam usados para compra de votos. Para candidatos a prefeito, o cálculo é de 1% do eleitorado até o limite de 30 mil eleitores e, depois, uma contratação a cada mil eleitores acima deste teto. Para os que disputam uma vaga na Câmara Municipal, é a metade.
Em São Paulo, os candidatos a prefeito puderam contratar até 9.592 pessoas. Já os que tentavam uma cadeira como vereador, 4.796.