Se a seleção brasileira continuar dependente demais dos lances individuais, isolados, de estocadas e dribles dos seus excelentes atacantes, não vai dar certo contra fortes adversários. A individualidade está ligada à solidez coletiva, no controle da bola e do jogo. Se a seleção continuar alongada, deixando grandes espaços entre setores, com uma enorme distância entre os jogadores mais recuados e os mais adiantados, não vai dar certo.
Quanto mais atacantes tem a equipe, menos espaços há para Vinicius Junior utilizar seus incríveis talento, velocidade e habilidade. No Real Madrid, Ancelotti costuma atrair o adversário para contra-atacar com passes longos para Vinicius nas costas dos defensores.
Não dá para marcar com apenas dois jogadores no meio-campo, pelo centro e pelos lados. Os pontas precisam voltar quando não é possível pressionar. O ponta-direita costuma fazer isso, mas, Vinicius Junior, para ser mais bem aproveitado nos contra-ataques, não deveria ter essa função do lado esquerdo.
No Barcelona, Raphinha é escalado pela esquerda, com função de marcar e também de ir para o centro, perto do centroavante, para aproveitar sua excepcional finalização. No Real Madrid, Bellingham marca pela esquerda ao lado dos meio-campistas e avança pelo centro.
Não dá mais para uma equipe assistir à outra trocar passes. É fundamental pressionar no campo adversário para recuperar a bola. A seleção deveria fazer isso com mais frequência.
Nos últimos jogos, ficou ainda mais evidente a pouca qualidade dos laterais e do centroavante para o nível de uma seleção brasileira. Existem várias opções, mas não há uma ótima solução.
No meio-campo, Bruno Guimarães não tem jogado como faz no Campeonato Inglês. Dorival Júnior deveria tirar férias em janeiro na Inglaterra e aproveitar para ver os jogos do Manchester United e conversar com Casemiro. Ele, com sua experiência, seus 32 anos, tem melhorado no time inglês e, provavelmente, voltará a ser a melhor solução no meio-campo.
Após o empate por 1 a 1 com o Uruguai, Dorival disse que o processo evolutivo continua bem e citou os elogios de Bielsa à seleção brasileira. O técnico do time uruguaio falou que o Brasil será um fortíssimo candidato ao título mundial, ainda mais com Vinicius Junior e Neymar. Ele deve ter se referido ao Vini dos melhores momentos no Real Madrid e ao Neymar do Barcelona, que, ao lado de Messi, foi disparado o melhor coadjuvante do mundo.
As dificuldades e as soluções para a seleção brasileira são muitas, com difíceis escolhas. Espero que Dorival acerte o alvo.
Sombra da alma
O Inter, sob o comando de Roger Machado, tem a melhor campanha do segundo turno no Brasileirão, mesmo com os problemas das enchentes no Rio Grande do Sul, que prejudicaram os treinamentos, as viagens e o emocional. Roger, com sua lucidez e amplos conhecimentos, merece estar entre os grandes técnicos brasileiros.
Nos últimos jogos do Brasileirão e nas finais da Copa Sul-Americana e da Libertadores, um fator importantíssimo e decisivo, que está presente em todos os jogos de futebol, é o emocional. Como ele não pode ser medido e não entra nas estatísticas, é ignorado, como se não existisse. O corpo é a sombra da alma.
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