A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (19) quatro militares do Exército suspeitos de participar de um plano para matar, em 2022, o recém-eleito presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Os oficiais são todos integrantes das Forças Especiais do Exército, considerada a tropa de elite da Força. Os militares formados nessa área são conhecidos internamente como “kids pretos”, em referência à cor dos símbolos do grupo, como o gorro e o emblema.
Entre os alvos da operação, batizada de Contragolpe, estão o general da reserva Mário Fernandes e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo.
Além de Lula e Alckmin, outro alvo desse grupo de militares seria o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que seria preso e morto em seguida, de acordo com as investigações.
Segundo os investigadores da PF, o grupo era comandado pelo general da reserva Mário Fernandes, que foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele ainda foi assessor no gabinete do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ) até março deste ano.
Mário já foi alvo de buscas na operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF em fevereiro, que também investiga suposto plano de golpe de Estado para impedir a posse de Lula (PT). À época, ele ficou em silêncio em seu depoimento e alegou não ter tido acesso aos autos.
O general da reserva teria enviado mensagens ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, pedindo adesão ao plano golpista —a solicitação teria sido rechaçada pelo chefe da caserna.
Além disso, Mário foi um dos participantes de reunião ministerial do governo Bolsonaro em julho de 2022. Em sua fala, mencionou explicitamente a possibilidade de ocorrer no Brasil uma nova versão do golpe de 1964, com um governo militar.
“Não existe o verbo precisamos. Vai ter. […] Temos que ter um prazo para isso [mudanças no sistema eleitoral] acontecer por parte do Judiciário, do TSE, e uma previsão de uma próxima reunião para alternativas se isso não acontecer nesse prazo”, afirmou.
Em depoimento, Mauro Cid disse aos investigadores que o general era um dos mais radicais entre os envolvidos nos planos para evitar a posse de Lula.
Também alvo da operação desta terça-feira, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima comandava a terceira companhia de Forças Especiais em Manaus, mas foi afastado por determinação do STF em fevereiro após também ser alvo da Tempus Veritatis.
Em mensagens encontradas pela PF na operação, ele teria enviado para Cid um um documento em inglês que alegava ter identificado vulnerabilidades nas urnas eletrônicas no primeiro turno das eleições de 2022.
O texto, segundo a decisão de Moraes, insinuava a existência de “dois códigos-fonte” nas urnas eletrônicas —mentira que foi espalhada por grupos bolsonaristas apesar de as Forças Armadas terem participado da lacração das urnas eletrônicas, sem apontar fraudes.
Alvo da operação desta terça, o tenente-coronel Rafael Martins também foi citado na Tempus Veritatis. Mensagens encontradas pela PF na ocasião mostram ele organizando manifestações com Cid e pede orientações sobre os locais certos para os protestos.
Os dois falaram ainda sobre destinar R$ 100 mil para cobrir gastos de hotel e alimentação de manifestantes em Brasília.
Os diálogos indicam que Martins orientou Cid a apagar posteriormente as mensagens, “com o objetivo de suprimir as provas dos ilícitos praticados”, segundo a PF.
O tenente-coronel Rodrigo Bezerra e o policial federal Wladimir, por sua vez, são alvos pela primeira vez no inquérito sobre o suposto golpe de Estado planejado por Bolsonaro e aliados no fim de 2022.
Ao falar sobre a operação desta terça-feira, a PF afirmou que, entre as ações que seriam desenvolvidas para evitar a posse de Lula, estava o plano “Punhal Verde e Amarelo”, elaborado por Mário Fernandes e que teria como objetivo o assassinato do petista e de seu vice.
“O planejamento elaborado pelos investigados detalhava os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além de posterior instituição de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, a ser integrado pelos próprios investigados para o gerenciamento de conflitos institucionais originados em decorrência das ações”, diz a PF.