Presidente do BC afirma que também considera projeções de empresários para definir a taxa Selic; fala vem após crítica da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR)
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, ironizou nesta 2ª feira (18.nov.2024) as críticas do PT sobre projeções de “malvados da Faria Lima”, em referência à avenida de São Paulo que concentra empresas e agentes do setor financeiro. Disse que a autoridade monetária também avalia estimativas de empresas para decidir o juro base da economia.
A política monetária do Banco Central é influenciada pelas expectativas (projeções) do mercado financeiro. Na prática, quando há uma desancoragem das estimativas de inflação para a meta de 3%, o BC pode adotar uma decisão mais restritiva na taxa básica, a Selic. Como o Poder360 mostrou nesta 2ª feira (18.nov.2024), as estimativas para 2024 estão acima da meta, segundo o Boletim Focus.
A presidente do PT (Partido dos Trabalhadores), deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse que há uma “chantagem aberta” do mercado financeiro, que eleva projeções para manter a taxa Selic em nível elevado.
Campos Neto comentou sobre o tema em participação nesta 2ª feira (18.nov.2024) no evento “CEOs Workshop”, organizado pela Consulting House. Disse que a inflação subiu no acumulado de 12 meses por fatores de curto prazo. Citou a alimentação em domicílio e energia elétrica. Defendeu que o processo de desinflação tem “algum risco” e que os preços de serviços ainda pressionam o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
“As expectativas desancoraram bastante, tanto as expectativas de mercado quando dos economistas. Antes que a gente tenha que escutar que, na verdade, são os malvados da Faria Lima tentando fazer uma expectativa de inflação maior, a gente olha também o que são as expectativas do Firmus, que é uma pesquisa que a gente começou a fazer com o mundo real, empresas e empresários”, disse.
A pesquisa Firmus está em fase de testes. O relatório preliminar mostrou que, em agosto, que as projeções para a inflação eram de 4,2% para 2024. Campos Neto disse que os empresários são, “curiosamente”, mais pessimistas que os agentes do mercado financeiro.
“É comum ter essa percepção pior no mundo real, muito também por uma coisa que a gente chama de preço saliente de insumos que alguns insumos que são importantes para as empresas subiram um pouco mais do que a média”, disse.
INFLAÇÃO GLOBAL
Segundo o presidente do BC, a inflação global tem registrado uma certa estabilidade em patamar “mais alto do que as metas tanto para o mundo desenvolvido quanto para o mundo emergente”. Ele disse que a inflação de serviços está bem acima da meta em grande parte do mundo. Afirmou que parte da explicação é a mão de obra “apertada” com o mercado de trabalho aquecido.
“No caso dos Estados Unidos, mais específico, a gente vê que [a inflação] provavelmente estabilizou entre 0,25% e 0,30% mensal. Isso é um número que é bem acima do que seria o objetivo”, declarou Campos Neto.
PRODUTIVIDADE E ENVELHECIMENTO
Campos Neto declarou que a dívida global nos países aumentou no pós-pandemia de covid-19 em função dos estímulos fiscais adotados. Em cenário de juros maior, para controlar a inflação, ficou mais caro custear o endividamento global.
“A gente tem um grande desafio de produtividade, porque a população está envelhecendo. O mundo, com exceção dos Estados Unidos, está ficando menos produtivo e a gente está numa situação onde tem mais conta para pagar, dívida maior, mais juros e menos produtividade. Esse é o grande desafio coletivo globalmente falando”, disse.
Durante a apresentação, Campos Neto mostrou um mapa dos Estados Unidos que mostra programas de assistência financeira às famílias norte-americanas. De 2000 a 2022, aumentou o número de parcela da renda pessoal proveniente de assistência governamental no país.
“Se a gente olhar isso na América Latina é até mais intenso do que isso [nos EUA]. O governo fez muito mais programas de transferência ao longo dos anos, está muito mais endividado e fica um questionamento se isso gerou eficiência, se não gerou eficiência ou se é a melhor forma de fomentar o crescimento de longo prazo”, declarou.
Campos Neto avalia que alguns programas são necessários e importantes, principalmente no período de pandemia de covid-19. Disse, porém, que é preciso pensar na “saída” desses programas.