Nada como uma declaração polêmica de um dos atletas mais educados e diplomáticos do planeta para animar uma semana meio monótona de futebol na Inglaterra. Com a pausa na Premier League para a disputa da Liga das Nações, seria uma chance para os jogadores da seleção inglesa se encontrarem, deixarem para trás de vez a derrota na final da Eurocopa deste ano e projetarem o caminho até a Copa do Mundo de 2026.
Só que, dos 26 convocados para partidas contra Grécia e Irlanda, oito pediram dispensa alegando problemas físicos. O capitão Harry Kane quebrou o protocolo e, pela primeira vez, criticou publicamente seus companheiros. Em uma entrevista, disse que a Inglaterra vem antes de qualquer outra coisa, que o que aconteceu foi uma pena e que entende o período complicado da temporada, mas que “talvez alguns jogadores tenham se aproveitado da situação. Não gostei, para ser sincero,” afirmou.
Vale ressaltar que alguns dos ausentes realmente se lesionaram em campo. Trent Alexander-Arnold, do Liverpool, e Declan Rice e Bukayo Saka, ambos do Arsenal, foram substituídos nos últimos jogos pela Premier League antes da pausa, e é difícil pensar que não iriam querer estar até o fim. Já Phil Foden jogou os 90 minutos pelo Manchester City. Kane reacendeu o debate sobre o que vale mais: clube ou seleção?
A Inglaterra vive um momento único e complicado. O último treinador, Gareth Southgate, ficou oito anos no cargo, levou a equipe à semifinal da Copa do Mundo de 2018 e às finais da Euro em 2021 e neste ano. Pediu demissão depois de não conseguir nenhum título, mesmo com um time cheio de craques, mas ficou conhecido por ter devolvido o orgulho de jogar e torcer pelo país.
Agora, a seleção inglesa está em um limbo e com certa crise de identidade. Comandada pelo interino Lee Carsley, espera por Thomas Tuchel, que foi anunciado em outubro, mas só assume em janeiro de 2025. A primeira partida no cargo será em março, só um ano e três meses antes da Copa do Mundo. A demora gerou críticas à Federação Inglesa. E Tuchel já começa o novo emprego sob desconfiança de alguns por ser alemão —equivalente a contratar um argentino para treinar a seleção brasileira. Além disso, há um cansaço por parte da torcida, já que a seleção masculina não ganha nada desde a Copa do Mundo de 1966.
O comprometimento de Kane é louvável, ainda mais porque ele nunca conquistou um troféu por clubes ou pela seleção inglesa. Ironicamente, começou no banco na vitória por 3 a 0 sobre a Grécia na última quinta-feira (14), mas elogiou a atuação do time.
Será que esse grupo, incluindo os que pediram dispensa, estaria mais comprometido se o novo técnico tivesse assumido, já que eles não precisam impressionar o interino? Talvez sim. Mas dá para culpá-los pela ausência ou possível falta de empolgação em defender a seleção, levando em conta estes fatores, além de um calendário apertado e estando na metade da temporada de clubes, quando o risco de lesões é considerável? Com certeza não.
Qualquer semelhança com outras seleções não é mera coincidência, e esse pode ser o resultado quando se somam a desorganização de dirigentes ao cansaço dos jogadores e à falta de apoio da torcida pela seca de títulos. Aí, não tem amor à camisa que resolva.
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