O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que o apoio do Congresso à proposta de corte de gastos que está sendo desenvolvida pelo governo Lula “vai depender do que vier”.
“O Congresso pode dizer, ‘olha, eu acho que ao invés de cortar aqui, era melhor cortar ali’. Ou ‘eu acho que essa medida pode ser mais efetiva naquele outro caminho’. Todo mundo na hora do corte tem que ceder. Não só aqui, não só ali”, disse Lira em entrevista concedida à Folha de São Paulo, nesta sexta-feira (1).
“Vai ter que cortar? Corta proporcional, corta em determinado lugar que afete menos as pessoas que mais precisam. Naquele programa que é menos importante, preservando sempre aqueles que são mais incisivos na mudança da vida das pessoas. Acho que tem que ser por aí, uma regra geral para isso”, completou.
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Lira também informou que ainda não foi consultado pela equipe econômica do governo sobre os detalhes do pacote.
O presidente da Câmara disse que tem alertado “para um problema sério” em relação aos pisos de saúde e eduação, além da vinculação do salário mínimo dos benefícios da previdência nas despesas públicas.
“Não estou entrando no aspecto se é justo ou não. Só que eles aumentam a despesa e pressionam muito o discricionário. A saúde no último ano aumentou R$ 50 bilhões. Isso pressiona todo o recurso discricionário do governo, investimento e tudo. O teto vai ser pressionado. O arcabouço está aí e tem que cumprir as metas”, disse Lira.
O presidente da Câmara também afirmou que é preciso tratar o assunto “de maneira eficaz”. A fala foi uma crítica indireta ao governo.
“Para cumprir as metas, vai ter que cortar em algum lugar. Quando não diz quando, nem em que, tem problema de especulação de dólar, de juros, dessas coisas todas. Isso tem que ser tratado de maneira eficaz. O Haddad tem se esforçado”, destacou.
Demora para anunciar pacote
Na última terça-feira (29), Haddad disse que não há prazo para divulgação de medidas voltadas ao corte de gastos públicos. Após a declaração, o dólar registrou alta de 0,92% e terminou o dia cotado a R$ 5,761, o maior patamar da moeda americana desde 2021, quando atingiu R$ 5,766.
Na quarta-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que entende a “inquietação” do mercado com a demora do governo Lula para anunciar o pacote de corte de gastos.
Além da incerteza fiscal no Brasil, a expectativa dos dados de emprego dos Estados Unidos também impactou o dólar. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores (B3), fechou em queda de 0,37%, aos 130.729 pontos.
Haddad comparou a demora para o anúncio do pacote de corte de gastos ao que ocorreu com o prazo de entrega do arcabouço fiscal, que foi encaminhado ao Congresso em 18 de abril de 2023.
“É que nem o arcabouço fiscal, demorou 10 dias a mais do que o previsto, mas os 10 dias foram importantes para fazer uma redação adequada. Você está lidando com finanças públicas, você não pode errar”, disse o ministro.