O PT deve apoiar o nome de Hugo Motta (Republicanos-PB) na sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara, apesar do incômodo de uma ala do partido com a decisão de criar uma comissão especial para debater o projeto de lei que concede anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro de 2023.
Na tarde desta quarta (30), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), o líder do governo José Guimarães (PT-CE), e o líder da bancada, Odair Cunha (MG), almoçaram com o presidente Lula para tratar do tema e discutir sobre o momento ideal para anunciar a decisão. Isso porque há uma preocupação de membros do Executivo de evitar eventuais ruídos na base aliada.
Há uma expectativa de que isso possa ocorrer ainda nesta quarta, após uma conversa com o próprio candidato seguida de reunião da bancada. Petistas dizem que, no mais tardar, esse anúncio deverá ocorrer no começo da próxima semana.
Segundo integrantes do partido, a opção por Motta conta com maioria na bancada petista. Um petista projeta que Motta tem hoje o apoio de dois terços da bancada (formada por 68 deputados).
Desde o começo das negociações, o presidente da República tem ressaltado que não quer enfrentar Lira no processo, que não tem candidato e que é preciso evitar disputas na base de apoio ao seu governo no Congresso.
Além de Motta, são candidatos Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA) —os dois partidos têm representantes na Esplanada.
O debate no PT ocorre num momento em que outras siglas se movimentam para anunciar apoio a Motta.
Na terça (29), Lira oficializou apoio ao nome de Motta pela manhã, e o PP, à tarde. Nesta quarta, foi a vez do Podemos. É esperado que ainda nesta tarde PL e MDB também sigam por esse caminho.
Um petista diz que, diante do avanço dessas conversas, o partido não poderia ficar excluído do processo sob pena de perder espaço na composição da Mesa Diretora e nas comissões temáticas.
Apesar da resistência de uma ala do PT à decisão de Lira, integrantes da cúpula do partido viram na criação de uma comissão para debater a proposta de anistia uma janela para negociação com Motta, ao afastar o risco de votação do projeto já na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa —cuja composição é majoritária da oposição ao governo.
Para uma ala do PT, o movimento de Lira contempla o partido.
Havia o temor de derrota do governo no plenário da comissão. A exclusão do projeto seria uma condição do PT. No mesmo pacote, estaria a votação da reforma tributária.
Em conversas com articuladores do governo, o presidente da República pede esforço para que a sucessão não afete propostas de interesse do Executivo, em especial a conclusão da regulamentação da reforma tributária.
Um dirigente do PT diz que a comissão vai para as calendas, a exemplo do que aconteceu com a comissão que discutiria uma nova proposta do projeto das Fake News. Outro integrante do PT lembra que o projeto de anistia não inclui a elegibilidade de Bolsonaro.
Apesar disso, petistas alertam para o risco de retomada da pauta após eleição do futuro presidente da Casa. Essa ala do PT vê com desconfiança essa iniciativa de Lira, por ser um aceno aos bolsonaristas. Na avaliação deles, era necessário um gesto mais incisivo contra a proposta.
Um interlocutor de Lula afirma sob reserva que como isso será discutido não importa, mas, sim, saber se a proposta irá progredir na Casa ou não. Na avaliação desse político, era necessário que Motta fizesse uma fala mais assertiva acerca do tema.
Os defensores do acordo alegam, no entanto, que esse foi o aceno possível para atender a dois partidos e possibilitar o debate sobre sucessão. Para um grupo de petistas, a remessa do debate sobre anistia para uma comissão é insuficiente. Seriam necessários gestos mais contundentes de Motta contrários à votação do projeto durante seu mandato.
Outra ala do partido diz, no entanto, que esse gesto não vai acontecer pois esse foi um acordo possível.