Um eleitor boulista fiel se agarraria a fragmentos de boas notícias trazidas pela nova pesquisa do Datafolha, à espera de uma improvável reviravolta.
As menções corretas ao número do candidato do PSOL superam em 12 pontos percentuais as de Ricardo Nunes (90% a 78%). A vontade de ir às urnas dos eleitores do ex-líder sem-teto também é superior à dos simpatizantes do prefeito (7,8 a 6,8, numa escala de 0 a 10).
A esperança do candidato que representa a esquerda na eleição é que a militância, energizada, compareça em maior número às urnas, o que condiz com a gincana motivacional a que ele se propôs na última semana de campanha, dormindo nos quatro cantos da cidade.
Outro fiapo de otimismo pode ser extraído do debate da TV Globo. Entre os que viram o programa, Boulos foi considerado o melhor por 19% no fundamental grupo dos que anunciam voto branco, nulo ou nenhuma opção, contra 13% de Nunes. Mesmo essa notícia é temperada, no entanto, pelo fato de que apenas 37% dizem ter assistido ao embate ao menos em parte.
O fato é que as notícias menos alvissareiras para Boulos afloram com mais facilidade na pesquisa, mesmo com a diferença agora sendo de “apenas” 11 pontos percentuais nos votos totais.
Entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB), ele segue com 11%, enquanto Nunes oscilou dois pontos para cima e tem 76%. Em outras palavras, a live de sexta-feira (25) do psolista com o coach aparenta ter tido efeito nulo sobre a corrida, embora provavelmente não tenha havido tempo para seus efeitos serem plenamente sentidos.
Nunes, por sua vez, ensaia uma recuperação em indicadores que despertavam alguma preocupação, e seu voto parece menos volátil do que no levantamento passado. O prefeito agora é o candidato ideal para 36% dos que optarão por ele, contra 30% na pesquisa anterior. A parcela dos que certamente votarão no emedebista foi de 41% para 44%.
Na eleição da cadeirada, do soco no marqueteiro e do apagão, convém não cravar cenários definitivos antes da apuração, mas a impressão é de jogo jogado, até porque Boulos parece ter usado todas as cartas possíveis que tinha a seu dispor. Mais importante, a margem para mudanças significativas no humor do eleitorado estreitou-se, com 89% dizendo já ter feito sua opção definitiva.
O foco, a confirmar-se o cenário, passa a ser nos efeitos políticos do resultado. Para Boulos, pior que perder seria ficar abaixo dos 40,62% dos votos válidos que obteve em 2020.
Crescer um pouco seria conseguir fôlego para seguir sendo visto como o futuro da esquerda pós-Lula, até porque ele tem apenas 42 anos. Diminuir seria dar adeus, ou ao menos postergar, esse status.
Do outro lado, a eventual vitória de Nunes teria efeitos nacionais, mesmo com a conhecida inapetência do prefeito em fazer política além das fronteiras da cidade.
Seu maior padrinho, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ganharia impulso para um eventual projeto presidencial em 2026 e força para atrair um agradecido MDB para sua órbita, afastando a legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nada que se compare, obviamente, ao dia seguinte para o campo lulista, onde um difícil debate sobre a campanha paulistana (e no país de forma geral) ganha ares de inevitabilidade.