A depender das propostas, o embate Boulos x Nunes termina empatado.
Ambos são a favor do bem, da luz elétrica, da água encanada, da paz mundial.
Seria um empate com muitos gols. Todas as propostas são louváveis. Mas imprecisas, sem metas. A cidade desconhece o que esperar além dos supostos desígnios.
Nunes escapa do lugar-comum quando destaca o Rolê Ecológico para 40 mil estudantes do sexto ano de todas as escolas municipais, mas sem detalhar do que se trata e da execução.
Boulos se propõe à construção de mais 22 CEUs, totalizando 80, sem revelar o impacto financeiro necessário.
Ambos tergiversam, utilizando-se de conceitos genéricos e aprazíveis.
Além do prometido, por si só estratosférico, adicionando as outras propostas do programa inteiro, a incredulidade aumenta exponencialmente. Não há recursos nem tempo dentro do mandato. Nem no todo nem para a educação em si.
Os programas não definem prioridades. Confundem, como de hábito, importância com prioridade.
Tudo é importante, não se sabe o que vem antes.
De fato, ambos os conjuntos, similares, são relevantes. Porém, os recursos escassos são dinheiro e tempo no mandato: não havendo prioridade, tudo é uma abstração gentil, um pensamento desiderativo, incerto e esquivo.
Fogem das questões básicas, que receberam foco na revolução educacional de Sobral (CE):
- Alfabetização até 7 anos. Para valer: bom entendimento de texto, redigir com propriedade e articulação de ideias. (Ambos cogitam a alfabetização vagamente, sem detalhamento da concepção).
- Preparação dos professores para ensinarem os alunos como aprender e como utilizar, na prática, o aprendizado.
- Política de carreira para os professores, a possível.
- Avaliação. Como fazê-la de forma permanente, como alcançar alunos e professores, que resistem a ela. Os candidatos se escondem desse desafio.
- Gestão. Sobral investiu na gestão da escola, a implicar questões complexas como: preparação dos professores para o tema; cobrança da escola e incentivos aos que atingem as metas.
Tais assuntos abordados futilmente evitam posições polêmicas. Não há coragem pública.
E os candidatos não desatrelam questões fundamentais de tópicos acessórios, complementares, como se o todo fizesse parte de um suco batido no liquidificador, sem senso das proporções.
O empate entre as propostas, nada de novo com embasamento financeiro e estrutural, faz resvalar do empate repleto de gols, se considerarmos os temas rasos visíveis, para um 0 x 0 morno e chato, se pensarmos na ausência de propostas que coloquem o dedo nas feridas. Como ter responsabilidade com a melhoria do Ideb com metas precisas ou com a porcentagem de alfabetização no tempo certo.
Ensaboados, Nunes escorrega das escolas militares; Boulos, de Paulo Freire. Ensino profissionalizante teve falta.
Os programas registrados não excedem mísera folha, onde se exaltam políticas públicas de cortes. “À la” Pablo Marçal.
Sobre a didática magna, nenhuma palavra.
Mentiras sinceras nos interessam.