O fim de semana do paulista Emerson Bisan, 50, promete. No sábado (19), ele corre pela 20ª vez a prova de 75km Bertioga-Maresias, no litoral norte de São Paulo. No domingo, às 11h45, faz palestra no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, sobre sua vida com diabetes tipo 1, diagnóstico que recebeu aos 21 anos, em 1995.
Na época ainda aluno de educação física da Universidade de Mogi das Cruzes, temeu por abortar um futuro que acalentava desde a adolescência, de atuação no esporte. Não havia ainda a perspectiva de uma carreira a enfileirar maratonas e ultramaratonas, provas que somadas hoje já vão para mais de duas centenas.
O médico que catequizou Bisan sobre o diabetes tipo 1 –doença autoimune, diferentemente da mais comum, diabetes tipo 2, desenvolvida principalmente por conta do sedentarismo– aliviou ali mesmo o principal temor do paciente: a necessidade de abandonar o esporte.
Fez isso ao mostrar a foto da lenda olímpica Mark Spitz, nadador estadunidense que havia ganhado sete medalhas de ouro numa única olimpíada, a de Munique, em 1972, e que sofreria do mesmo mal (não há no site oficial de Spitz menção à doença).
Com aquele limão, Bisan fez a limonada da sua vida.
Sua carreira como corredor de longas distâncias e mais tarde treinador de corrida, sócio de assessoria esportiva e difusor do esporte como pilar para a vida saudável, especialmente para quem é diabético, exigiu dele enorme força de vontade, movimento que foi muito impulsionado pela alusão, correta ou não, a Spitz.
“Eu poderia ser o Mark Spitz das corridas. Eu poderia ser o melhor da minha área”, escreve a jornalista Letícia Martins sobre aquele momento na biografia “Emerson Bisan – 100 maratonas”, publicada há cerca de dois anos.
Se correr maratonas ou participar de provas de triatlo exige capacidade de planejamento, como os aficionados gostam de dizer, fazer isso com diabetes, tendo de controlar a taxa de glicose do sangue e eventualmente ajustar a entrada de insulina, demanda destreza logística.
Bisan usa o sistema MDI (de múltiplas doses de insulina) e mede a glicemia na ponta do dedo. Em provas muito longas, de mais de dez horas e em ambientes de difícil assepsia, prefere um modelo automatizado, com sensores de medição e um cateter que regula e faz a infusão de insulina adequada.
Mas a atividade física trabalha de certa forma como o próprio hormônio, reduzindo a glicemia do corpo, e Bisan diz que jamais precisou em 30 anos de corrida injetar insulina durante a prática.
Ainda assim restam as medições constantes e, ironicamente, o risco de hipoglicemia, quando as taxas glicêmicas baixam a níveis extremos.
“Quando a gente toma insulina e vai correr, soma-se ao efeito dela o do exercício, e aí a glicemia cai vertiginosamente. O risco agudo aí é maior do que qualquer outro a longo prazo.”
Parece algo bastante incômodo, e obviamente é quando comparado à situação de quem não precisa de nada disso, mas Bisan diz que se a cura fosse possível nos anos 1990 –e talvez mesmo se ela fosse possível hoje–, não a escolheria.
“Tudo que tenho hoje envolve o diagnóstico de diabetes lá atrás e o enfrentamento da doença desde então”, disse-me. “Meus amigos, minha profissão, as viagens que fiz, a capacidade física que descobri ter.”
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