Lula quer pacote para recuperar terreno na classe média – 25/03/2023 – Bruno Boghossian


Lula está de olho na classe média. Depois de retomar programas voltados para a população mais pobre, o presidente estabeleceu como meta recuperar terreno para o PT nas faixas seguintes de renda.

O petista anunciou em entrevista na última quarta-feira (22) que, depois do marco de 100 dias de governo, vai trabalhar para resgatar “o poder aquisitivo da classe média brasileira”. Segundo um auxiliar, Lula demonstra uma fixação por essa fatia do eleitorado. Em fevereiro, ele disse que “a classe média não é contemplada em quase nada das políticas públicas do Estado”.

Lula reforçou que pretende isentar do Imposto de Renda os contribuintes que ganham até R$ 5.000 (a um custo de dezenas de bilhões de reais) e elaborar um novo programa de crédito habitacional (em fase preliminar de discussão) para quem ganha mais de R$ 8 mil e está fora do Minha Casa, Minha Vida. A renegociação de dívidas do Desenrola e a operação da Petrobras para baratear os combustíveis também podem ter impacto nesses grupos.

O presidente mira dois núcleos diferentes do eleitorado, comumente encaixados na classe média. A faixa politicamente mais importante é aquela que ganha de dois a cinco salários mínimos (36% da população). A segunda inclui brasileiros com renda de cinco a dez salários (10% do país).

Em 2022, esses grupos preferiram Jair Bolsonaro. O então presidente chegou ao segundo turno com nove pontos de vantagem sobre Lula entre eleitores com renda de dois a cinco salários, segundo o Datafolha. Na faixa seguinte, ele superava o petista por 15 pontos.

Esses números não vieram do nada. Sem avanço significativo entre os mais pobres, Bolsonaro centrou atenção na classe média com medidas como o corte de tributos sobre combustíveis. Na campanha, o então presidente ganhou 18 pontos de popularidade nesses grupos –no fim, era aprovado por 52% dos eleitores com renda de cinco a dez salários.

O pano de fundo da inquietação de Lula é um longo processo de aumento da rejeição a seu partido nessas faixas. Os petistas venceram as eleições nos segmentos intermediários de renda de 2002 a 2010. A crise política de 2013 rompeu essa conexão, levando Dilma Rousseff e Aécio Neves a um empate no ano seguinte. Depois, a classe média deu fôlego ao impeachment e sentou praça ao lado de Bolsonaro.

A ideia também é amortecer ataques de Lula, antigos e recentes, direcionados ao que ele chamou de “classe média”. Na campanha, o petista reclamou que o Brasil tem “uma classe média que ostenta um padrão de vida que não tem na Europa”.


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