Em plena Segunda Guerra Mundial, Sir Lawrence Holt, dono de uma frota mercante do País de Gales, percebeu que, quando seus navios eram bombardeados pelas aeronaves nazistas, os marinheiros que tinham maior vigor físico eram os primeiros a sucumbir nas águas geladas do mar do Norte. Intrigado, quis descobrir o que causava essa aparente contradição. E a resposta era que, se o barco atingido afundava em dois minutos, esse era o tempo que eles deveriam ter para buscar água, mantimentos, cobertas e seguir para um bote salva-vidas. A falta de iniciativa, sangue-frio e organização nesses momentos acabava por provocar mais mortes do que seria esperado dos que confiavam apenas em sua força física. Mas, o que fazer?
Holt descobriu que Kurt Hahn, um educador alemão que havia escapado dos nazistas por ter ideias educacionais pouco adequadas aos paradigmas do Terceiro Reich, mantinha um programa que buscava formar pessoas mais autônomas e proativas. Pessoas capazes de tomar iniciativas importantes nas horas mais críticas, assim, como num naufrágio.
Com as orientações de Holt, Hahn conseguiu reduzir as mortes de suas tripulações e, pouco depois, fundou o primeiro instituto Outward Bound, em 1941, na cidade de Aberdovey, no País de Gales, que já recebeu em seus quadros nomes da elite britânica como o falecido príncipe Philip, marido de Elizabeth 2ª, e o rei atual, Charles. “O foco sempre foi mostrar que existe mais em você do que você acredita”, conta Andreas Martin, diretor executivo da OBB (Outward Bound Brasil), que começou a operar no país no final do ano 2000.
Se a descrição provoca alguns arrepios em quem anda com justa ojeriza dos discursos de coaches de matizes diversos, Martin explica que ali não se tenta doutrinar ninguém, mas, sim, proporcionar experiências que levam crianças, jovens e adultos para fora de suas zonas de conforto cotidianas por meio de vivências na natureza, monitoradas cuidadosamente por guias especializados e selecionados entre experientes praticantes de atividades de aventura e natureza.
“Uma das observações mais importantes de Hahn”, explica Martin, “é que a gente coloca os jovens numa camisa de força, que são as regras sociais, antes de que eles tenham tido oportunidade de descobrir todo o seu potencial, por meio de tentativa e erro”. Tirar essa moçada da camisa de força com um bom banho de lama, mato e desafios é a missão básica da OBB.
Para promover esse crescimento entre jovens que, ressalta Martin, chegam aos programas da OBB com vigor físico e capacidade de resiliência cada vez menores pelo excesso de proteção de pais e de riscos da vida urbana, os roteiros —que podem ser de trilhas, acampamentos, escaladas, ciclismo ou canoagem, entre outros— são montados para que os participantes encontrem suas próprias soluções para os perrengues que encontrarem ao longo da jornada escolhida.
Com custo entre R$ 495 e R$ 5.900, variável de acordo com a atividade para quem pode pagar, a OBB também mantém parcerias com ONGs que levam jovens em situação de vulnerabilidade para seus programas sociais, financiados por patrocinadores, nos quais eles recebem desde as roupas básicas para a atividade até todo o equipamento necessário, a custo zero. Do total de 24.000 pessoas que já passaram por programas da instituição, Martin aponta que mais de 1.700 foram bolsistas.
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