Segundo pesquisadores, mudanças nas obras impressionistas representavam poluição causada pela Revolução Industrial
Em um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores da Universidade Sorbonne, na França, e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisaram pinturas de artistas impressionistas como William Turner e Claude Monet e mostraram que as mudanças estilísticas nas obras –que adquiriram contornos nebulosos e paleta de cores mais branca– estariam retratando a poluição do ar causada pela Revolução Industrial ao longo do século 19.
De acordo com Maria de Fátima Andrade, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP (Universidade de Brasília), para medir o nível de poluição atmosférica no passado, os cientistas precisam usar uma “estimativa em grade” das emissões de dióxido de enxofre da época em questão.
“Eles estimaram o quanto era consumido de combustível na Revolução Industrial e, a partir do total de material de carvão consumido, estimaram quanto era emitido de enxofre”, disse. Entre 1800 e 1850, o carvão consumido pelo Reino Unido resultou em metade das emissões globais de dióxido de enxofre, dado que teria contribuído para os efeitos visuais retratados nas pinturas impressionistas.
A nebulosidade encontrada nas obras de Turner e Monet foi consequência da poluição visível no ar, que acabou por afetar a visão de mundo dos pintores. Isso foi provocado por uma “combinação de emissão de partículas e muita umidade nessas regiões, que aumentava ainda mais essa queda de visibilidade”, disse a professora.
Apesar de o estudo abordar as representações da poluição atmosférica durante o século 19, filósofos também registravam que a visibilidade do ar estava prejudicada já na Idade Média. Nesta época, a queima de lenha e carvão emitiu gigantescas concentrações de partículas poluentes e, como Maria de Fátima afirmou, a população reconhecia que a poluição sujava os castelos, interferia na visão e provavelmente seria nociva à saúde.
Atualmente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) disponibiliza dados que comprovam a relação entre poluição e saúde, como dados de internação por exposição a eventos poluentes. Isto é, a medição da poluição nos dias atuais vai além de seus efeitos visíveis.
“Temos equipamentos que ficam instalados em estações em superfície, que medem os gases e as partículas. Existem também os dados de satélite, que medem a coluna inteira de monóxido de carbono, oxigênio e hidrogênio”, disse Maria de Fátima.
Para a professora, analisar as condições atmosféricas do passado pode ser essencial para que possamos nos planejar para o futuro. A partir de medidas tomadas séculos atrás, como mudanças de combustível e reorganização das cidades, é possível verificar os efeitos positivos e negativos de certas ações e, assim, implantar políticas de controle mais adequadas.
“Quando priorizamos um controle e estabelecemos um padrão, as concentrações de poluentes diminuem. Hoje em dia, pensamos muito na questão de buscar soluções baseadas na natureza, ou seja, mitigar o impacto da poluição ao aumentar a cobertura verde, por exemplo”, afirmou.
Com informações de Jornal da USP