Aprender novas culturas, viajar o mundo e ter experiências diversas. Essas são algumas das vivências relatadas por estudantes brasileiros que resolveram ir para outros países com o intuito de estudar. Em 2022 comparado a 2019, a busca para realizar um intercâmbio cresceu 30%, segundo levantamento do STB – Student Travel Bureau, consultoria especializada em educação internacional.
De acordo com levantamento do STB, os destinos mais procurados são Canadá, Estados Unidos (EUA), Inglaterra, Austrália e Irlanda. Entre as modalidades que os estudantes podem escolher, estão curso de idiomas, ensino médio (High School), graduação e pós-graduação (Higher Education), entre outras.
No Recife, o programa High School registrou alta expressiva de 20% em 2022, na comparação com 2019. A Inglaterra aparece como o principal destino escolhido pelos estudantes da região.
Segundo a gerente do STB Recife, Marina Motta, antes de iniciar o processo de intercâmbio com o estudante, a agência ouve quais são as experiências que o cliente quer vivenciar.
“O primeiro passo para fazer um intercâmbio é identificar o destino de interesse. Existem diversas opções de destino, de língua inglesa, espanhola, francesa, alemã, destino na Ásia. Então é importante primeiro identificar o foco de interesse, se seria o idioma, o idioma com um foco de interesse específico, seja um programa de férias, um programa de mais longa duração, um curso de idioma, uma extensão universitária, uma graduação, uma pós-graduação”, afirmou Marina.
Escolhidos o destino e o foco de interesse, o estudante é orientado sobre o custo no local e os documentos exigidos para que o intercâmbio aconteça, além da Assistência Médica Internacional, passagem aérea de ida e volta e qual será a acomodação no país.
De acordo com a gerente, um intercâmbio com foco no aprendizado de idiomas com duração de um mês e acomodação em casa de família, com café da manhã e jantar, fica em torno de R$ 13 mil para países como Canadá, ou para o Norte da Inglaterra, por exemplo.
No caso dos programas de trabalho, como o Au Pair, mulheres a partir de 26 anos podem trabalhar e estudar nos Estados Unidos de forma legal com um investimento de 500 doláres.
Experiências ao redor do mundo
A estudante Anita Sultanum, de 16 anos, está na cidade de Sydney, na Austrália, para um intercâmbio de seis meses. Em busca de conhecer pessoas do mundo inteiro, vivenciar a cultura australiana e criar independência, Anita escolheu o país por conta da diversidade na natureza.
“A natureza e diversidade da Austrália sempre chamaram minha atenção, sempre amei ir para a praia e curtir um dia de sol, então quando decidi fazer intercâmbio, sabia que tinha que ir para um lugar onde eu pudesse me aventurar e conhecer lugares incríveis como alguns que já conheci desde que cheguei aqui. Uma parte de mim também gosta de cidades grandes e modernas e acho que a Austrália tem o equilíbrio perfeito dos dois”, disse a intercambista.
De acordo com Anita, espetacular e inesquecível são as palavras que definem a experiência de estudar em outro país.
“Minha rotina é bastante diferente do que estava acostumada e está fazendo com que eu me torne mais independente e aprenda a ser mais responsável. Tive que me adaptar a criar tempo para acordar para a escola, fazer meu próprio café da manhã e almoço. Também tive que aprender a pegar ônibus sozinha, manter meu quarto arrumado e mais importante de tudo saber valorizar dinheiro e entender quais são os gastos necessários”, reiterou a jovem.
Já a estudante Maria Rita de Albuquerque França, de 19 anos, começa um novo sonho em setembro deste ano. A jovem foi aceita na Universidade Northwestern, no estado de Illinois, nos Estados Unidos, para um graduação de 4 anos. Ela pretende cursar jornalismo no país.
Em janeiro, Maria Rita já tinha ido ao país por meio de um intercâmbio gratuito de três semanas promovido pelo Programa Jovens Embaixadores. Ela ficou entre os 50 estudantes brasileiros de escolas públicas selecionados para estudar nos EUA. A estudante ficou no estado do Alabama.
“Para mim foi um grande test drive porque eu tinha aplicado já para as faculdades do exterior e quando eu viajei eu já sabia que tinha sido aprovada, então para mim foi realmente uma chance de colocar um pezinho nos Estados Unidos, antes de realmente viajar para morar. Foi fantástico porque eu conheci pessoas maravilhosas”, disse Maria Rita.
Com grande expectativa, a estudante frisou que recebeu a carta de aceitação da universidade em dezembro de 2022.
“Estou louca para que setembro comece, continuo ansiosa, mas eu estou tentando aproveitar ao máximo o que o Brasil tem a me oferecer. Depois que eu voltei do intercâmbio e com essa expectativa de ir lá para fora, eu passei a enxergar Recife com outros olhos, a minha cidade, o meu país, então eu estou tentando aproveitar ao máximo da minha família, dos meus amigos, porque é uma nova fase que vai estar iniciando”, explicou.
Mais brasileiros no Canadá
O Canadá, um dos principais países escolhidos pelos brasileiros para fazer intercâmbio, recebeu 10.405 mil estudantes brasileiros em 2022, de acordo com dados do Immigration, Refugees and Citizenship Canada (IRCC). O Brasil está entre os 10 principais países de origem de novos estudantes internacionais entrando no Canadá.
De acordo com dados do governo canadense, 11.420 brasileiros receberam a residência permanente no Canadá em 2021. Desse total, 43,5% imigraram para o país pela categoria Canadian Experience, um dos três programas do governo federal que fazem parte do Express Entry, sistema on-line do governo para a candidatura de profissionais que confere uma pontuação para cada característica de quem pretende imigrar (idade e família no Canadá, por exemplo).
Segundo Camilla Lopes, sócia da Hi Bonjour, agência brasileira e canadense especializada em programas de intercâmbio e Higher Education no Canadá, o custo benefício é um dos motivos para os brasileiros escolherem estudar no país.
“O Canadá está sempre no ranking dos países escolhidos pelos brasileiros para estudar por vários motivos. Entre eles, o ótimo custo benefício para o estudante internacional, a segurança e a qualidade de ensino. Em 2022, o Canadá recebeu mais de 550 mil estudantes internacionais de 184 países e os brasileiros, ocuparam o 10º lugar no ranking dos estudantes estrangeiros”, pontuou.
Um programa de intercâmbio para estudar inglês ou francês por 4 semanas custa em média CAD 2.000 mil dólares canadenses.
Para fazer intercâmbio no país é necessário ter passaporte, carta de aceitação da instituição que vai estudar, e visto canadense de turismo, estudo e/ou trabalho aprovado, variando de acordo com o tipo de intercâmbio escolhido.
“Para ter o visto aprovado é necessário fazer uma comprovação de reserva financeira e vínculos com o Brasil. Em todas as etapas, auxiliamos os estudantes”, destacou Camilla.
Em abril de 2018, os jornalistas pernambucanos Danilo Tenório, 40, e Danúbia Julião, 36, foram morar na cidade de Vancouver, no Canadá. Inicialmente, Danúbia chegou no país para estudar e Danilo para trabalhar e em novembro de 2022, conquistaram a residência permanente. No país, o casal trabalha em uma empresa de seguros.
Entre 2013 e 2014, Danilo e Danúbia fizeram um intercâmbio de estudo e trabalho para praticar o inglês também em Vancouver. Durante a vivência no local, a vontade de residir no país surgiu.
“Para o intercâmbio, inicialmente a gente tinha pensado nos Estados Unidos, porque era um lugar que a gente conhecia e fomos a uma agência de intercâmbio. Quando chegamos lá, a pessoa que nos atendeu falou que os Estados Unidos não tinha um programa, pelo menos naquela época, de que a gente pudesse estudar e trabalhar. Ela apresentou o Canadá como uma das opções que tinha essa oportunidade de você estudar e trabalhar, então a gente fez um intercâmbio de um ano em Vancouver e a gente estudou 6 meses e trabalhou 6 meses”, afirmou Danilo.
Por terem gostado muito da cidade e do estilo de vida da população, o casal decidiu fixar moradia no local. De acordo com Danúbia, ao colocar os pés na cidade, a mesma sentiu a liberdade e segurança que não tinha no Brasil. O respeito pelas minorias, algo presente no país, foi mais um motivo para a decisão, além da receptividade da população.
“Essa vontade de ficar foi durante o intercâmbio. Quando eu pisei em Vancouver, eu senti uma paz tão grande, algo que eu nunca tinha sentido antes, uma paz de você conseguir viver em liberdade. Claro, existem pessoas de todos os lugares do mundo aqui em Vancouver, então não é o céu e vão ter situações que você vai ter que prestar atenção, ter que ter cuidado, mas é muito diferente do que eu vivia no Brasil”, explicou Danúbia.
Em setembro de 2016, na época com 16 anos, o psicólogo e mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luís Felipe Ferreira de Souza, realizou o desejo de fazer um intercâmbio no Canadá através do Programa Ganhe o Mundo Musical, que tinha como propósito levar estudantes da rede estadual para estudar em outros países com tudo pago pelo Governo de Pernambuco.
Nascido e criado na Bomba do Hemetério, na Zona Norte do Recife, o estudante, que concluiu o ensino médio na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho, sempre se interessou em viajar e conhecer novos lugares.
A experiência no Canadá durou cinco meses e meio. De acordo com o psicólogo, a vivência aumentou a curiosidade para conhecer novos lugares.
“Eu acho que o Luís de antes era um pouco mais dependente, claro, o Luís era adolescente, hoje eu estou mais velho, mas eu acho que o intercâmbio contribuiu muito para a minha independência e de aumentar justamente esse desprendimento de não ter muito medo de experienciar coisas novas. O Luís que voltou, voltou muito mais curioso de conhecer novos lugares”, afirmou Luís.
No Canadá, Luís acredita que o ciclo se fechou, após voltar em 2018 a convite da família que o acolheu durante o intercâmbio. Após finalizar o mestrado em filosofia, o psicólogo pretende dar continuidade aos estudos na Europa e buscar novos ares.
“Quero dar continuidade aos meus estudos fora, pretendo depois que eu concluir o mestrado ir para algum país da Europa, vou tentar prioritariamente a França, porque meu campo de estudo é muito forte na França, então eu acho que eu quero experimentar novas coisas. Já fui duas vezes para o continente da América do Norte, e quero testar outras coisas, ou até viajar por aqui mesmo pela América do Sul, seria legal”, disse.
Além de contribuir para a sua bagagem educacional, o intercâmbio ajudou Luís a entender a importância de ser recifense.
“Eu acho que você só consegue perceber o quão interessante nós somos, a nossa cultura é, quando vemos de fora. Quando eu vejo de fora fica mais fácil perceber o quanto é legal isso que eu tenho. Eu acho que é interessante ter pé no chão e saber que eu tenho uma casa interessante, uma casa legal, que tem as suas dificuldades, mas também não vou achar um lugar perfeito para onde eu vou”, acrescentou o mestrando.
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