Uma forte venda das ações de bancos atingiu bolsas de valores da Europa nesta sexta-feira (24), com papéis do Deutsche Bank caindo na máxima de 14,5% à medida que o custo do seguro da dívida do banco alemão contra o risco de inadimplência saltou para o maior nível em mais de quatro anos.
Os investidores olharam para o Deutsche Bank avaliando alguma vulnerabilidade ou se algum problema maior está próximo, principalmente depois do que ocorreu com Credit Suisse.
Então, o que esses dois casos têm em comum? No início da crise com o Credit Suisse, decorrida de uma alta no custo dos derivativos financeiros conhecidos como swaps de inadimplência de crédito (CDS, na sigla em inglês) — o que protege os detentores de títulos contra a inadimplência do banco em suas dívidas — resultou em uma forte queda no preço da ação.
Segundo Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, foi isso que se viu no Deutsche Bank também.
As ações do banco alemão perderam um quinto de seu valor neste mês e o custo dos CDS saltou para uma máxima de quatro anos, com base em dados da S&P Market Intelligence.
Ou seja, o Deutsche Bank teve uma alta nos CDS e uma queda no preço da ação. Soares explica que é importante salientar que, em termos de magnitude, o Deutsche Bank está com uma reação bem mais branda do que o Credit Suisse até o momento. “O banco suíço teve uma alta para mais de 1000 pontos do CDS, enquanto o Deutsche Bank chegou na casa dos 200, mesmo depois da disparada”.
De acordo com o economista, essa disparada reflete uma expectativa do mercado de que há problemas com o banco. “No caso do Credit Suisse, por exemplo, o governo suíço se adiantou e intermediou uma negociação, mas ainda não ficou exatamente claro o que aconteceu no banco”, ressalta.
Sistema bancário
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, todo mundo está reavaliando o sistema bancário para ver se tem algum risco maior. “A situação do Credit Suisse era bem mais grave que a dos demais, pelo menos dos grandes. O banco vinha de dois prejuízos relevantes bilionários em 2021 e 2022”.
Ele explica que o Credit Suisse já tinha o preço da ação despencado há anos, resultado de envolvimento em outros casos, além de problemas com o mercado financeiro.
“O Deutsche Bank, em 2022, teve o melhor resultado, registrando o lucro mais expressivo desde 2007. É um banco rentável, mesmo tendo momentos ruins no passado, mas tem conseguido se acertar recentemente”, aponta Cruz.
Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, lembra que o Deutsche Bank passou por uma restauração multibilionária nos últimos anos com o foco em reduzir custos e aumentar a lucratividade.
“A queda acentuada das ações do Deutsche Bank se deve a disparada de seus CDS, porém, sem um direcionador específico, e sim devido ao sentimento de desconfiança no setor bancário como um todo, depois do SVB e Signature e do ocorrido com o Credit Suisse”, destaca Sporch.
Para ela, ao contrário do banco suíço, o banco alemão apresenta margens mais confortáveis quando se trata de cobertura de liquidez e financiamento estável líquido.
Cruz também avalia que, atualmente, há uma preocupação no mercado sobre os bancos, mas não que realmente tenha vários Credit Suisse prontos para estourar. “A preocupação, na verdade, é com os bancos americanos — os pequenos — porque lá tem alguns mais vulneráveis, em relação com o que se viu na situação do Silicon Valley Bank”.
A CNN entrou em contato com o Deutsche Bank para um posicionamento, mas não teve retorno até o momento.
Bancos da União Europeia
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse a líderes da União Europeia que os bancos da zona do euro são resilientes porque têm fortes posições de capital e liquidez, mas que o BCE pode fornecer liquidez se necessário, disseram autoridades da UE na sexta-feira.
Lagarde estava apresentando sua avaliação dos desenvolvimentos econômicos e financeiros aos líderes da UE, enquanto as ações dos bancos europeus caíam acentuadamente, com o Deutsche Bank e o UBS pressionados por preocupações de que os movimentos de reguladores e dos bancos centrais ainda não tenham contido os piores problemas.
“O setor bancário da zona do euro é resiliente porque tem fortes posições de capital e liquidez, e porque aplicamos a todos eles as reformas regulatórias acordadas internacionalmente após a crise financeira global”, disse Lagarde segundo autoridades da UE na reunião.
“O kit de ferramentas do BCE está totalmente equipado para fornecer liquidez ao sistema financeiro da zona do euro, se necessário”, disse ela.
*Com informações da Reuters
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