Ex-integrante da facção delatou líder da operação e entregou 4 números de celulares à PF
O plano do PCC (Primeiro Comando da Capital) para sequestrar e matar o senador Sergio Moro (União-PR) e outras autoridades foi delatado por ex-integrante da facção criminosa ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo) no início de março.
A informação está em relatório que reúne provas da operação, tornado público nesta 5ª feira (23.mar.2023), e em despacho realizado também nesta 5ª pela juíza responsável pelo caso, Gabriela Hardt. Leia a íntegra dos documentos: relatório (5 MB); despacho (19 MB).
A testemunha, com identidade protegida por lei, teria procurado o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) por estar “jurada de morte” pelo “NEFO”, o líder da operação contra Moro.
O delator afirmou que NEFO é Janeferson Aparecido Mariano Gomes, que estaria encarregado de “levantar informações e sequestrar” o senador, mas não soube especificar quais atos criminosos seriam realizados depois. Os depoimentos levaram à instauração de inquérito policial.
A testemunha entregou à polícia 4 números de telefone celulares, que seriam de pessoas próximas a NEFO. A PF começou, então, um monitoramento a partir da quebra dos sigilos telefônicos e de mensagem dos aparelhos.
“Os primeiros dados recebidos identificaram fortes indícios de que haveria ações criminosas de um núcleo do PCC da chamada ‘restrita’ contra o senador Sergio Moro, motivo pelo qual foi necessária a complementação ainda dentro da 1ª quinzena de interceptações telefônicas e telemáticas. Aliás, foram realizados 2 pedidos devido à gravidade dos dados que eram identificados a cada minuto”, diz o relatório.
Nos celulares, a PF encontrou mensagens em que NEFO pedia à namorada, Aline de Lima Paixão, que guardasse alguns códigos em seu celular: “Flamengo” seria “sequestro”; “Fluminense” seria “ação (possivelmente assassinato)”; “Tokyo” seria “Moro”; e “México” seria “MS (Estado do Mato Grosso do Sul)”. Um áudio de um dos envolvidos no plano confirmou os códigos.
A polícia conseguiu, ainda, imagens da folha de um caderno com informações sobre Moro e sua família, o que poderia indicar que eles também seriam alvo dos criminosos. De acordo com as investigações, o senador foi monitorado por pelo menos 6 meses.
Outra imagem encontrada mostra uma lista com despesas para o crime, que totalizam mais de US$ 550 mil, equivalente a quase R$ 3 milhões.
Segundo o relatório, as ações para a concretização do ataque começaram em setembro do ano passado, no período eleitoral. O documento também tem registros das armas pertencentes ao grupo.
“Destacamos que a capacidade bélica dos criminosos é notória e as imagens obtidas nas contas vinculadas a essa investigação demonstram armas variadas, dentro de casas, sob móveis, indicando que efetivamente estão prontas para uso da organização criminosa na prática de crimes”, afirma a PF no documento.
O relatório serviu de base para o decreto de prisão preventiva para 14 acusados. Leia a íntegra do pedido (2 MB).
Este texto foi escrito pela estagiária de jornalismo Gabriela Boechat sob a supervisão de Amanda Garcia.