O deputado estadual Paparico Bacchi (PL-RS) pediu à Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul que se manifeste sobre o afastamento do diretor da Escola Estadual de Educação Básica Érico Veríssimo, Flávio Luiz Gabardo. O professor está proibido de frequentar a instituição de ensino, localizada em Jacutinga (RS), desde 4 de janeiro deste ano.
Em entrevista ao programa Oeste Sem Filtro, Bacchi disse que enviou um ofício à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS) pedindo a convocação da secretária de Educação, Raquel Teixeira. O documento solicita ainda a convocação dos responsáveis pela Coordenadoria Regional e pela atual direção da Escola Érico Veríssimo. “O assunto se tornou relevante, com proporções nacionais”, afirmou. “Há um sentimento de repulsa àquele ato autoritário.”
Bacchi comentou também a onda de protestos contra o afastamento de Gabardo, criticou a postura da Secretaria Estadual de Educação e clamou pelo retorno do diretor ao cargo.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O senhor teve resposta da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul?
Colhemos sentimentos de todas as ordens no Rio Grande do Sul. São sentimentos de revolta, compaixão. Estamos tratando de um professor raiz, de um homem que dedicou a vida à educação. É um pai de família exemplar e diretor exemplar há duas décadas. Muitos protestos ocorreram. O último, em frente à 15ª Coordenadoria Regional de Educação. Esse é o órgão que controla as escolas estaduais das regiões norte e nordeste. O assunto se tornou relevante, com proporções nacionais. Há um sentimento de repulsa àquele ato autoritário. Na condição de deputado estadual, usei o Parlamento para me solidarizar com o professor Flávio e encaminhamos um ofício à Comissão do Parlamento Gaúcho as convocações da secretária estadual de educação, Raquel Teixeira, a diretoria da Coordenadoria Regional e a direção da Escola Estadual de Educação Básica Érico Veríssimo. Gostaríamos de tomar ciência dos atos que desabonam o bom andamento da educação no Estado.
O Rio Grande do Sul é um Estado produtivo, conservador. Mas tem na educação redutos esquerdistas. Como o senhor vê isso?
Sou formado em história, na Universidade de Passo Fundo (RS). Rio Grande do Sul é um Estado que foi referência em educação. Hoje, não mais. Essa questão de viés esquerdista que prospera aqui está relacionado às universidades. Temos um porcentual de 40% de esquerdistas no Estado. Esse caso específico de Jacutinga sai dessa esfera. A denúncia do Partido dos Trabalhadores (PT) é um caso que comove inclusive aqueles que possivelmente tenham denunciado um grande homem. É uma pessoa que dedica a vida à educação. Hoje, debatemos na bancada do Partido Liberal (PL) uma maneira de não silenciarmos perante uma arbitrariedade daquela natureza. Esperamos que a secretária Raquel Teixeira possa tomar providências, para diminuir a tensão.
O governador Eduardo Leite já se pronunciou sobre o caso?
Acredito que o governador não está sabendo disso. Se soubesse, certamente estaria adotando as medidas cabíveis.
O professor não poderia ser levado à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para falar sobre o que está ocorrendo?
Precisamos construir um bom entendimento, apaziguar a educação do Estado. É claro que, se percebermos que haverá alguma insensibilidade, adotaremos outras providências. Não podemos permitir que haja condenação sem presunção de inocência.
A secretária de Educação tem prerrogativa para manter tanto poder?
Possivelmente, aqueles que gerem a Educação no Rio Grande do Sul devem ter pensado que a história de Flávio Gabardo seria apenas mais um caso sem relevância. Não consideraram que estavam tolhendo a liberdade, diminuindo a autoestima de um grande ser humano. Estamos falando de um homem devotado. Quando pessoas como essas são contrariadas, há uma comoção. Grandes protestos ocorrerão nos próximos dias. Esperamos que a força dos veículos de comunicação possa nos ajudar nesse caso.
Entenda o caso
Gabardo reproduziu parte do texto intitulado “À sombra da corrupção sem limites” durante participação em um programa de rádio local. O conteúdo está disponível na Revista Oeste.
Depois de tomar conhecimento do comentário de Gabardo, o Partido dos Trabalhadores (PT) o denunciou à Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. A legenda afirma que o docente se utilizou de “argumentos racistas” em suas declarações. O processo avançou, e a 15ª Coordenadoria Regional de Educação sacramentou a decisão de afastar o diretor de suas atividades. Ele está proibido de frequentar a instituição de ensino.
De lá para cá, Gabardo teve suas senhas nas redes sociais bloqueadas. A 15ª Coordenadoria Regional de Educação também excluiu o docente dos grupos com os quais mantinha contato com os alunos. O professor alega que não recebeu explicações da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul.
Inconformados, moradores de Jacutinga elaboraram um abaixo-assinado favorável ao docente. Mais de 1,4 mil pessoas, quase a metade da população local, manifestaram apoio a Gabardo. No sábado 18, moradores da região protestaram em frente à escola e pediram o retorno do diretor ao cargo.
“Hoje, meu objetivo é esclarecer o que aconteceu”, disse Gabardo, em entrevista ao programa Oeste Sem Filtro. “Tiraram-me da função que mais gosto de fazer, do meu dia a dia. Trabalhava de manhã, à tarde e à noite.”