Empresários manifestam preocupação após decisão do Copom


José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (que reúne a indústria de plásticos), também demanda sinais do governo

JOANA CUNHA
SÃO PAULO, SP

Embora fosse esperada, a manutenção da taxa básica de juros pelo Banco Central em 13,75% nesta quarta (22) eleva o clima de alerta entre empresários.

Há uma avaliação de que é possível aproximar o horizonte de queda da Selic se o governo conseguir baixar os ruídos provocados pela escalada retórica de Lula contra o BC e pelas incertezas sobre a nova regra fiscal.

O banqueiro Ricardo Lacerda, do BR Partners, ainda diz ter expectativa de mudança. “Apesar de os sinais de inflação ainda não mostrarem arrefecimento, o BC deverá reconhecer o ambiente de crédito altamente restrito em que estamos vivendo e iniciar em breve um afrouxamento”, afirma Lacerda.

Flavio Rocha, dono da Riachuelo, chamou de pornográfico o patamar da Selic, reiterando o que disse na segunda-feira (20) o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva. Para o dono da varejista, os juros podem cair se o governo der sinais de austeridade.

“É lógico que há uma taxa pornográfica, como disse o próprio Josué, mas taxa de juros é consequência, não é causa. A taxa de juros é alta em virtude do temor de descontrole fiscal. A forma de baixar é sinalizar que há austeridade e bom senso na gestão das contas públicas. Eu vejo com apreensão tantas sinalizações que vão no sentido da gastança. O caminho para baixar a taxa de juros é mostrar que os gastos públicos estão sob controle. A gente vê no noticiário todas as frentes de gastança andando a todo vapor e nenhuma força para a contenção dos gastos públicos”, disse Rocha.

José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (que reúne a indústria de plásticos), também demanda sinais do governo. “Há dois vetores agindo simultaneamente para deixar o ambiente de negócios muito confuso: os juros estão muito altos, sem dúvida, mas além disso, ainda não sabemos qual é o plano do governo para se criar as condições para a queda destes juros tão altos”, afirma Roriz.


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Laercio Cosentino, presidente do conselho da Totvs, pede pressa. “Todos precisam lembrar que precisamos pensar no país no longo prazo com soluções que reflitam estabilidade, credibilidade e crescimento sustentável, mesmo que o remédio seja amargo. Não podemos desperdiçar mais um ano.

Não adianta bater no remédio se não temos condições de debelar a doença”, afirma Cosentino.
Newsletter Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. * Para João Amoêdo, a decisão do Copom foi na direção correta. “O BC acerta na decisão e deixa duas mensagens importantes: não se sensibiliza com pressão política, e o novo arcabouço fiscal é determinante para a redução dos juros. Cabe ao presidente da República apresentar uma regra clara e responsável”, disse.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) critica a decisão do Copom, mas também pede mais cautela do governo na condução dos gastos públicos. Em nota, a entidade afirma que a medida é “desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica”.


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