Fones de condução óssea são bons para corredores? – 07/03/2023 – Na Corrida


Os números são alarmantes. Um estudo divulgado no final do ano passado por pesquisadores da universidade médica da Carolina do Sul (EUA) aponta que até 1,35 bilhão de pessoas entre 12 e 34 anos podem ter perda auditiva pelo uso inadequado de fones de ouvido ou pela exposição a ruídos por períodos prolongados, principalmente em baladas e shows.

O levantamento, publicado pela revista científica BMJ Global Health, cruza os resultados obtidos por outros 33 estudos feitos sobre o impacto de ruídos na perda auditiva entre jovens para chegar à estimativa.

O estudo considera exposição excessiva a ruídos o ato de ouvir música a mais de 80 decibéis por 40 horas semanais ou mais. Para se ter uma ideia, 80 decibéis correspondem ao barulho de um secador de cabelos ou ao de uma rua movimentada.

Por que falar disso em um blog de corrida? Vá a qualquer parque e repare nos atletas. Depois do tênis, provavelmente o acessório mais presente entre os corredores é o fone de ouvido.

A corrida é uma atividade repetitiva, tediosa, na qual cai bem uma distração nos momentos de baixa intensidade, e que se beneficia de uma ‘energia extra’ nos treinos de explosão. Eu mesmo tenho playlists diferentes para os dias de corridas regenerativas, longões e intervalados. Podcast ou audiobook para os treinos longos, eletrônico bate-estaca para os treinos de tiro.

Assim como exageros no treino podem levar o atleta a ter lesões musculares, ouvir música alta durante um período prolongado coloca em risco o aparelho auditivo. E com um agravante: as perdas auditivas podem ser definitivas.

Fones de condução óssea

O mundo da corrida é feito de modas. Algumas passageiras, outras chegam e ficam. Ainda é cedo para dizer sobre o futuro, mas o fato é que cresce dia a dia o número de corredores que optam por fones de condução óssea.

Diferentemente dos fones tradicionais, que emitem as ondas sonoras para o tímpano, e dali transformam-se em vibração até a cóclea, os fones de condução pulam a etapa da transmissão sonora pelo ar e levam vibrações diretamente para o sistema auditivo.

Mamíferos marinhos usam o recurso para se comunicar. Reza a lenda que Beethoven segurava uma batuta entre os dentes enquanto tocava piano. As vibrações permitiam que o compositor, quase surdo, compusesse algumas de suas mais conhecidas obras no final de sua vida.

Será que os fones de condução óssea seriam uma solução para preservar a saúde do aparelho auditivo do atleta?

Infelizmente, a resposta é não. Os danos que esse tipo de aparelho pode causar são iguais aos observados em fones tradicionais.

“A exposição ao volume alto pode danificar as células sensoriais, independentemente se o som chega pelo ar ou por vibrações sonoras”, explica a otorrinolaringologista e atleta amadora Teresa Higino.

O maior diferencial do fone de condução óssea é permitir uma maior audição do som ambiente, uma vez que os ouvidos ficam desobstruídos. “Isso pode ser especialmente importante para corredores e ciclistas que treinam em vias públicas”, avalia Teresa.

Experimentei alguns modelos de condução óssea. No primeiro contato, o que se nota é uma ligeira coceira no ponto de contato do fone com a pele – causada, claro, pela vibração do aparelho. Quanto maior o volume, maior a trepidação. A qualidade do som é compatível com a maioria dos fones bluetooth usados pelos corredores.

Eu pessoalmente não me apaixonei, mas reconheço serem bons companheiros de corrida.

Portanto, seja com fone tradicional, seja com fone por condução óssea, funciona para o volume da música a mesma regra que vale para o seu tempo de chegada em uma prova: quanto mais baixo, melhor.


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