O primeiro projeto já definido, apresentado pelo Instituto de Conservação Costeira (ICC), que atua há dez anos em projetos ambientais na região
Uma área de mata equivalente a 200 campos de futebol, destruída durante os deslizamentos causados pelas chuvas, em fevereiro deste ano, no litoral norte do Estado de São Paulo, será recuperada com apoio da sociedade civil. O solo exposto, sujeito a chuvas e ventos, pode favorecer novos deslizamentos como os que causaram 65 mortes na região.
Os estudos para a restauração de 693 cicatrizes abertas nas encostas da Serra do Mar foram apresentados no dia 29 de março, em reunião do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), em São Paulo. O plano é contar com entidades da sociedade civil para recuperar a serra.
O primeiro projeto já definido, apresentado pelo Instituto de Conservação Costeira (ICC), que atua há dez anos em projetos ambientais na região, prevê a recuperação de 143 hectares na costa sul de São Sebastião, incluindo a Vila Sahy, a mais afetada pela tragédia. A recuperação de outros 65 hectares depende de novas parcerias.
“Estamos propondo um grande plano de restauração sócio ambiental dessas áreas, começando pela Vila Sahy. A ação é necessária antes que espécies invasoras comecem a crescer no solo que está muito exposto. As cicatrizes podem aumentar. Estamos olhando o aspecto ambiental, mas também social, com oficinas participativas com a comunidade”, disse a presidente do ICC, Fernanda Carbonelli.
O estudo prevê a aplicação de técnicas desenvolvidas há 40 anos para a recuperação das chagas produzidas na Serra do Mar pela ocupação das encostas e pela poluição industrial em Cubatão, na Baixada Santista. “Na época, foram criados parâmetros para a recuperação de terrenos muito inclinados que podem ser aplicados em São Sebastião”, disse o engenheiro agrônomo André Mota, consultor ambiental do ICC.
A ideia é replantar as áreas inicialmente com espécies pioneiras (de crescimento rápido) para que sejam enriquecidas em seguida com outras espécies nativas. De acordo com Mota, já foi iniciado o diagnóstico das áreas para definir as técnicas de plantio.
“Nunca foi necessária uma intervenção tão grande na região, por isso estamos definindo as metodologias a serem aplicadas no projeto, que ainda precisa ser aprovado pelos órgão ambientais”, disse. Há terrenos muito íngremes ou de rochas expostas em que não é possível o plantio convencional. “A boa surpresa é que já vimos guapuruvus (árvore da mata atlântica) brotando no terreno devastado”, disse.
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O projeto é consolidado por uma equipe de 12 profissionais, entre geólogos, engenheiros ambientais, agrônomos e biólogos.
De acordo com o biólogo Edson Lobato, gestor ambiental do ICC, a recomposição florestal também ajuda a impedir a reocupação das áreas onde houve deslizamentos. Ele lembrou que a região do litoral norte foi a que mais registrou assentamentos humanos precários no Estado e destacou a importância de envolver as comunidades locais no processo de restauração das áreas devastadas. “Desastres como esse que a gente vivenciou podem se tornar recorrentes”, disse.
A restauração das áreas afetadas por deslizamentos em São Sebastião e nos demais municípios do litoral norte será acompanhada pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) e pela Fundação Florestal, órgãos da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado, já que 50% das cicatrizes estão no Parque Estadual da Serra do Mar (PESM).
A secretária Natália Resende também preside o Condema e dirigiu a reunião, que teve também a participação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
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Estadão Conteúdo