Lucas Andrino, 38, não faz uma contratação para o São Bernardo antes de preencher todas as lacunas das planilhas em que registra informações técnicas e pessoais daqueles que pretende levar para o clube.
Jogadores, membros da comissão técnica e funcionários de todos os departamentos precisam passar por uma avaliação do CEO que está à frente da equipe do ABC paulista desde 2019, quando o clube foi transformado em uma empresa. Atualmente, quem cuida do time é uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol).
“A parte comportamental dos profissionais está diretamente ligada ao sucesso na parte esportiva”, diz ele à Folha. “Por isso, eu sempre busco o máximo de informações possíveis. Se for um atleta, falo com os três últimos clubes dele para saber se é um cara que respeita as condutas, se é uma cara da família, que tenha um bom convívio no dia a dia.”
É essencial, também, que os candidatos estejam alinhados com os planos de médio e longo prazo do time, que, além de estar nas quartas de final do Campeonato Paulista, vai disputar pela primeira vez a Série C do Campeonato Brasileiro. Uma rápida ascensão para um time que venceu a Série A2 do Paulista em 2021.
Neste sábado (11), o time da Grande SP enfrenta o Palmeiras, no Allianz Parque, às 19h, em busca de uma vaga na semifinal do Estadual —Paulistão Play, Premier e YouTube transmitem o confronto.
Na primeira fase do torneio, o elenco comandado pelo técnico Márcio Zanardi somou 26 pontos, com oito vitórias, dois empates e duas derrotas. Com 21 gols marcados —quatro deles anotados pelo meia Vitinho, 32, artilheiro do time—, tem o segundo melhor ataque, atrás do São Paulo, com 23.
Em seu primeiro trabalho em um time profissional, o treinador que acumula trabalhos na base de equipes como Santos, Guarani, Portuguesa e Corinthians, levou o São Bernardo à segunda melhor campanha geral do Estadual, atrás somente do Palmeiras, único dos grandes que ainda não enfrentou nesta edição –pelo fato de os dois estarem no mesmo grupo.
Contra Corinthians, São Paulo e Santos, o São Bernardo mostrou sua força. Derrotou os dois da capital e empatou com o adversário da Baixada Santista.
As boas atuações fizeram os próprios rivais observarem com mais atenção os jogadores do time do ABC. O atacante Chrystian Barletta, 21, por exemplo, tem negociação avançada com o Corinthians e deve selar sua ida para o clube do Parque São Jorge após o Paulista.
“Eu fico feliz com esse tipo de procura porque é sinal de que montamos um bom elenco”, afirma Andrino, segundo o qual o orçamento para este ano é de R$ 12 milhões, valor que incluir todos os gastos, inclusive com o plantel —para efeito de comparação, só com receitas, o Palmeiras estima somar R$ 704 milhões.
Há quatro anos, antes de ser comprado pelo Grupo Magnum, o clube fundado em 2004 vivia uma situação “caótica”, como define o dirigente.
“Não tinha nenhuma estrutura, nem física, nem humana. Tivemos que fazer tudo do zero. Por um lado, isso foi bom porque a gente pode implementar totalmente nosso jeito de trabalhar”, diz.
Esse era o desejo de Roberto Graziano, dono da Magnum, que também investiu no futebol do Guarani. “Ele queria um clube que tivesse 100% do poder de decisão”, conta o CEO.
Antes da aquisição do time do ABC, eles chegaram a cogitar a compra do Londrina, mas a proximidade de São Paulo, a chance de disputar a elite do Paulista e o fato de a dívida ser considera sanável fizeram o clube paulista ser o escolhido.
Além do investimento na contratação de jogadores e demais profissionais, foi preciso também buscar um centro de treinamento para o elenco. “O antigo dono nos alertou sobre isso”, lembra Andrino.
A opção encontrada foi treinar fora da cidade, em Atibaia, numa propriedade do ex-jogador do Corinthians Marcelinho Carioca. “Lá, além de termos uma boa estrutura, ficamos bem próximos do ABC, são cerca de 50 minutos daqui”, explica o dirigente.
Segundo ele, o São Bernardo em breve terá seu próprio CT. O clube aguarda aprovação da prefeitura para iniciar a construção em um terreno da cidade. O processo será feito em três fases, sendo a primeira delas com previsão de terminar no final de 2024, quando o elenco profissional já poderá fazer seus treinos lá.
Até lá, a principal meta da equipe é conquistar uma vaga na Série B do Campeonato Brasileiro. O futebol apresentado no Paulista credencia o clube para sonhar com isso.