Um dia depois de dividir palanque em São Paulo com o pré-candidato à prefeitura paulistana Guilherme Boulos (PSOL) e dois dos prefeitos mais exaltados pelo PT na trajetória do partido, o presidente Lula afirmou neste domingo (30) que o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), é o “possível melhor gerente de prefeitura que este país já teve”.
O petista participou, ao lado do aliado, que é pré-candidato à reeleição, da inauguração do programa Morar Carioca na comunidade do Aço, em Santa Cruz (zona oeste), que fica em frente à comunidade Três Pontes, uma região de influência do berço da maior milícia do estado.
Lula chegou a comparar a figura de Paes no Rio à de marcas da cidade como Ipanema, Copacabana, Cristo Redentor e Pão de Açúcar. Ele pretende apoiar a reeleição do prefeito na disputa eleitoral deste ano, apesar da resistência de setores petistas no Rio e de Paes não se mostrar disposto por enquanto a ceder a vaga de vice na chapa ao PT. O PSD é comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, secretário no governo paulista de Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Conheço muitos prefeitos e trato todos com muito respeito. Mas eu queria dizer para vocês que hoje estou aqui diante do possível melhor gerente de prefeituras que este país já teve, que é o Eduardo Paes”, afirmou Lula.
No sábado (29), Lula chegou a exaltar Marta Suplicy (PT), que foi prefeita de São Paulo entre 2001 e 2004, e afirmou que ela não conseguiu se reeleger por haver preconceito contra quem adota políticas sociais a favor dos mais pobres. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que foi prefeito na capital paulista entre 2013 e 2016.
“O Rio de Janeiro é a cara do Brasil. Em qualquer parte do mundo, quando você fala do Brasil, o pessoal lembra do Rio. Ou lembra de Ipanema, ou de Copacabana, ou do Cristo Redentor, ou do Pão de Açúcar, e agora lembra do Dudu. Não é só o Pão de Açúcar”, disse Lula.
Lula também voltou a fazer críticas a Bolsonaro, sem citar o nome do ex-mandatário. “Lamentavelmente houve um período conturbado no país e a gente teve um governo que passou a contar mentira para o povo”, disse Lula. “Começamos a retomar no ano passado todas as obras paralisadas. Esse país foi abandonado. Governar não é mentir, não é falar, é fazer”, afirmou.
“O povo mais humilde só é lembrado pelas pessoas na época da eleição. Aí todo mundo gosta de pobre e fala mal de banqueiro. Depois que ganha a eleição, começa a andar de jet-ski”, disse Lula.
Assim como havia feito nos dois discursos de sábado em São Paulo, o presidente buscou afastar a imagem de “pai dos pobres”, na tentativa de reforçar a imagem de atenção também a outros segmentos da sociedade, como a classe média.
Segundo a Prefeitura do Rio, responsável pelo programa Morar Carioca, foram entregues os três primeiros blocos de um total de 44 que estão sendo construídos na região. Ao todo, o Morar Carioca do Aço prevê 704 unidades residenciais, beneficiando cerca de 4 mil pessoas.
Ainda de acordo com a prefeitura, o programa também prevê uma reurbanização na região, com pavimentação de vias, instalação de redes de esgoto e de água, novos pontos de iluminação pública e construção de áreas de lazer.
Os investimentos na região foram de aproximadamente R$ 243 milhões e parte do valor – R$ 45 milhões – foi financiado pelo governo federal, via empréstimo assinado entre a prefeitura e o Banco do Brasil. O programa prevê intervenções em 22 comunidades no total.
O conjunto habitacional foi inaugurado na comunidade do Aço, próximo à comunidade Três Pontes. O local é considerado o berço da maior milícia do Rio de Janeiro, que até dezembro era comandada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Zinho foi preso na véspera de natal.
Antes de ser preso, em outubro de 2023, o sobrinho de Zinho, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, foi morto em operação policial. Investigadores acreditam que o líder, sabendo que estava perto de ser capturado, determinou a maior queima de ônibus da história do Rio de Janeiro. Na ocasião, 35 coletivos foram incendiados para facilitar sua fuga.
Entre os presentes no público estava o vereador Júnior da Lucinha (PSD), que teve o nome entoado em coro por pelo menos três vezes durante os discursos. Ele é filho da deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) denunciada pela promotoria por integrar e ser o braço político da milícia de Zinho, onde ela também tem seu reduto eleitoral.
Paes, que foi chamado pela promotoria como testemunha, cumprimentou Junior nominalmente, ao agradecer a presença dos vereadores.