Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (28), Lucas de Souza Martins, professor da Temple University, avaliou que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não conseguiu utilizar eficazmente o tema do aborto durante o debate presidencial da CNN contra Donald Trump, apesar de ser considerado um “trunfo eleitoral” para a campanha democrata.
De acordo com o professor, Joe Biden precisava convencer os eleitores independentes sobre os risco jurídicos em eleger uma pessoa condenada como Donald Trump.
“Ele [Biden] precisa convencer os eleitores independentes de que ter uma pessoa que foi condenada na justiça assumindo a Presidência dos Estados Unidos é algo que pode trazer uma insegurança jurídica para o país. Ele precisa trabalhar nesse argumento”, disse.
No entanto, ao abordar questões judiciais e um suposto caso extraconjugal de Trump, ele “traiu” sua fama política de ponderação, segundo Martins.
O professor destacou que Biden precisa continuamente fazer apelos a grupos específicos, especialmente ao eleitorado feminino, para revitalizar a empolgação pela sua candidatura, mas não conseguiu fazer isso de maneira convincente durante o debate.
Coalizão Eleitoral Enfraquecida
Martins avaliou que a coalizão eleitoral que foi crucial para a vitória de Biden em 2020, incluindo afro-americanos, latinos e eleitores mais progressistas, está menos inclinada a apoiá-lo agora. Ele destacou que Biden precisa constantemente apelar a esses grupos específicos para reavivar seu apoio.
“Joe Biden teve a oportunidade de falar sobre isso [a questão do aborto] em rede nacional diante de milhões de eleitores na CNN, mas acabou, até por conta de várias outras questões, por conta de seu fraco desempenho, ele não conseguiu impor a questão do aborto, que é um dos trunfos eleitorais para conquistar uma parte do eleitorado que ele precisa mais uma vez, assim como precisou em 2020”, disse.
Impacto da narrativa de Trump
Apesar de Trump ter utilizado uma “guerra de narrativas” sobre o apoio popular ao aborto, pesquisas mostram que a maioria dos americanos tende a apoiar o restabelecimento da questão de Roe versus Wade, que garantia o direito constitucional ao aborto nos EUA antes de ser revogado pelo Supremo Tribunal em 2022.
Martins observou que Biden perdeu a oportunidade de explorar essa questão com veemência durante o debate.
“Ele teve essa oportunidade no debate, obviamente que o Donald Trump acabou utilizando uma guerra de narrativas para dizer se o povo americano apoia Roe versus Wade ou não e a apuração da CNN mostra com bastante clareza que existe uma tendência do povo americano hoje de apoio ao restabelecimento da questão de Roe versus Wade e o que aconteceu e a versão do republicano acabou preponderando o que é um sinal de alerta para o Biden”, afirmou.
Abordagem de Biden sobre os processos judiciais de Trump
Martins também avaliou que a forma como Biden abordou os processos judiciais de Trump foi criticada. Ele argumentou que isso acabou prejudicando a imagem de ponderação que Biden cultivou ao longo de sua carreira, podendo alienar eleitores que ainda estão indecisos.
Segundo o professor, isso pode soar “estranho” para eleitores que buscam segurança em sua escolha, potencialmente prejudicando a campanha de Biden.
Em resumo, Martins concluiu que Biden falhou em explorar um tema crucial durante o debate e perdeu a oportunidade de reconquistar sua base eleitoral de 2020. Ele enfatizou a necessidade de Biden de fazer apelos específicos a grupos eleitorais-chave para fortalecer sua campanha.
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(Publicado por Raphael Bueno, da CNN Brasil)
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